Veja as últimas notícias da UCDB para você que está interessado em UCDB
Chegamos ao último domingo do Advento. Nós refletimos hoje sobre o evangelho de Lucas 1,26-38.
Comecemos a nossa reflexão com as palavras de Lorenzo Cherubini, cujo nome artístico era Jovanotti. Esse cantor escreveu, em 1997, várias músicas que foram colocadas no álbum A Árvore 1997. Ele compôs uma canção cujo título era Esta é a minha casa, que trazia as seguintes palavras: Ó Senhor do universo, escuta este filho perdido, que perdeu o rumo e que não sabe onde está, e que não sabe nem mesmo falar mais contigo.
Esta parte da música me veio à mente quando pensei nos dois textos da liturgia da palavra deste domingo: o primeiro apresenta o grande rei Davi que deseja construir uma casa para Deus, e o outro é o Evangelho, que mais uma vez nos fala de Deus que encontra a sua primeiríssima casa não em um templo, mas no ventre de Maria.
Jovanotti sente que é um filho perdido que busca a Deus sem encontra-lo. É deveras interessante este ponto de partida da canção, que parece espelhar a condição do homem que está sempre em busca de um lugar no qual possa encontrar Deus e sentir-se na sua casa.
A canção prossegue: Tenho um Cristo que pende sobre o meu travesseiro e um Buda sereno sobre o criado mudo. Conheço de cor o cântico das criaturas, tenho grande respeito pelas suras do Corão. Tenho também um talismã que meu amigo africano me deu de presente. E eu sei que tu te revelas em todos os lugares, que não estás somente fechado no céu e nas representações humanas que os homens fazem de ti.
Esta visão religiosa que mistura um pouco de tudo pode parecer risível, e talvez pode parecer até desrespeito usar este texto para refletir sobre os textos dominicais da Sagrada Escritura.
Mas acredito que seja importante acolher essa visão capaz de misturar as várias tradições religiosas para reconhecer que desde sempre o homem tentou enjaular Deus em objetos ou mesmo nos lugares sagrados, pensando que assim Deus deve aceder aos seus usos e consumo.
Davi, assim como nos relata a Escritura, tinha a intenção de construir um templo para o Senhor, que, naquela época, se encontrava numa tenda não muito conservada, como nos tempos do Êxodo.
Por trás desse desejo de construir um lugar sagrado está talvez uma vontade inconsciente de dar um limite à ação de Deus e controla-lo, chegando a pensar que é o homem que deve fazer algo por Deus e não o contrário.
Mas Deus, através das palavras do profeta Natan, lembra a Davi que não é ele, um homem pequeno, que deve fazer algo por Deus, mas é Deus que desde sempre fez algo por ele.
Não será o rei de Israel que construirá uma casa de pedra para Deus, mas é Deus quem fará uma casa para Davi. Aqui, o termo casa não quer dizer um edifício que esconde no seu interior uma casa der paredes, mas que tem suas portas fechadas para tudo. A casa de que fala a leitura é a descendência, a prole.
Deus, na verdade, não tem sua casa num lugar físico, mas em uma série de relações humanas e as únicas paredes que pode conter Deus são o mundo inteiro, dentro do qual nós nos encontramos.
E eis que a um certo ponto da história, aparece uma jovem da Galileia, localidade pouco distante de Jerusalém, lugar que guardava o templo oficial da religião de Israel.
Em Maria Deus encontra a sua casa, uma casa feita de humanidade, de pequenez, de medos humanos, mas também de muita disponibilidade.
A casa de Deus é Maria que, com o seu Eis-me aqui, abre a porta para que Deus encontre o seu lar. Em Maria, cheia do Espírito Santo, podemos ver a Igreja, isto é, todos nós, hoje.
Também nós, como Davi, corremos o risco de pensar que as nossas igrejas de tijolos, cheias de estátuas e tabernáculos, sejam a verdadeira e única casa de Deus. Mas o profeta Natan lembra, também para nós, que é Deus que constrói a nossa casa, feita com o seu amor e a torna habitável para todos os irmãos e irmãs que não poderem ser desprezados.
Também Maria, primeira e verdadeira casa de Deus, ensina-nos a não fechar as portas para Cristo. Toda vez que nós de fato dizemos sim ao amor, à paz, à acolhida, ao perdão, nos tornamos casa de Deus.
Dessa forma abrimos, como ela fez, as portas da nossa comunidade e da nossa vida para que Deus aí habite e nós e assim torne possível encontra-lo e servi-lo sempre e em qualquer lugar que estejamos fisicamente.
Esta é a minha casa: a casa onde estou, a casa onde posso levar a paz. Esta é a minha casa: a casa onde posso estar em paz contigo, em paz contigo. Esta é a minha casa. (“Questa è la mia casa” di Jovanotti, da “L’albero 1997″)
Fonte: Qumran
Apresentações continuam nesta terça e quarta-feira no auditório do bloco A