21/03/2010 - 0:00 - UCDB
Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges
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Com este quinto domingo da Quaresma nós nos aproximamos mais e mais da Páscoa. Também Jesus se aproxima da Páscoa, aquela que Ele celebrou com o seu sangue em Jerusalém com os seus discípulos. Antes disso, ensina no Templo. É isso que torna a mensagem dele mais preciosa.
Jesus está em Jerusalém e, pelo que o evangelho de João 8,1-11 dá a entender, encontrava no monte das Oliveiras um recanto para armar a sua tenda. Porém, se pensarmos em um quadro, o evangelista está apenas fazendo uma moldura para os acontecimentos que logo se sucederão. É nesse monte que Jesus chora olhando Jerusalém e é também nesse monte que verterá sangue antes da paixão. O monte das Oliveiras é um lugar muito especial no qual nós podemos ter uma idéia dos sentimentos de Jesus. É desse monte que Ele parte logo de manhã para ensinar na cidade. E o ensinamento de hoje é muito especial.
Nós já conhecemos a cena. Uma horda de pessoas indignadas e enfurecidas se une contra uma mulher frágil, vítima do sistema que tornava a separação entre pobres e ricos muito gritante. Segundo João, os doutores da Lei, para poderem dar uma amostra da própria agressividade, colocam na frente de Jesus uma mulher. Trata-se de uma mulher que precisa ser “apedrejada” pelo amor e que Deus coloca naquele momento na frente de Jesus para que conheça a justiça que vem do alto. João, o pintor desse quadro maravilhoso, coloca na cena os anciãos que têm mais do que a simples intenção de julgar; Jesus, que está ensinando, sentando, em algum lugar do Templo. A horda sai do tribunal para se encontrar com Jesus. Esse Jesus fazia pregações que estavam fora dos padrões judaicos e que pareciam querer destruir a ordem estabelecida do seu povo.
É como se um ladrão fosse pego com a boca na botija em qualquer rua de nossas cidades. Por mais que a polícia queira abrir alas no meio da multidão, o povo insiste em se aglomerar para ver a cara do meliante. Também ao redor de Jesus foi armado o barraco. Tudo com uma intenção bem determinada. Jesus se viu no meio daquela gente que o queria pegar em sua armadilha. Ele deveria ser a favor do apedrejamento ou contra. Se fosse a favor, seria incoerente com a própria pregação sobre a misericórdia; se fosse contra, iria contra a Lei e, portanto, seria considerado um herético. Entre Jesus e a multidão, havia, portanto, esse elemento, uma mulher surpreendida em adultério – mas, com quem? Ninguém o sabe! Ela foi colocada ali mesmo contra o fato de que quem tinha o direito de vida ou de morte na sociedade fosse o Império Romano que dominava a região. De uma maneira ou de outra, Jesus seria desmascarado. Ou seguia a lei de Israel ou seria qualificado como um colaboracionista do Império. Restavam a Jesus poucas opções. Seus adversários esfregavam as mãos, pensando: “hoje, ele não escapa!”.
Nessa cena, podemos contemplar a imagem da sabedoria humana usada contra o ser humano e contra Deus. É esse mundo de quem se acredita forte que quer acabar com esse Deus que escandaliza. Eles dirão depois que não sabiam o que fazer com esse homem que se dizia Messias, isto é, o libertador de Israel. Pense em você dizendo: “eu sou bom, não suporto o que diz esse Jesus!”. Foi isso o que aconteceu na sociedade de Israel.
É justamente nessa hora que Jesus ensina sobre o que é o perdão, ou seja, a justiça que vem do alto. Ele mostrará naquele dia o rosto de Deus e desmascarará o rosto do homem. Diante do homem inchado pelo próprio orgulho, a resposta é aquela que Ele escreve na terra – e aqui podemos nos lembrar de que Deus queria escrever a sua Lei nos corações e não nas pedras.
Pensemos no nosso mundo, quando queremos fazer prevalecer as nossas verdades sem valores e sem uma cultura de vida e de perdão. É esse mesmo mundo que quer declarar que Jesus é um herege, um arruaceiro, porque não aprova a lei do aborto que dá total liberdade à mulher e ao amante ou ao marido de decidirem sobre a vida de uma pessoa que vai nascer.
Assim como acontecerá durante o seu julgamento, Jesus só tem uma resposta para esse tipo de gente: o silêncio. Além do silêncio, e talvez essa tenha sido a equação matemática do perdão que escreveu na terra, Jesus proclama a sua verdade: “Quem não tiver pecados que atire a primeira pedra”. Na mente de Jesus está apenas uma ideia: para definir a substância do pecado daquela mulher basta encontrar os culpados, mas para dar a sentença é preciso encontrar o que há de melhor na pessoa. Em outras palavras, a saída de Jesus é sempre a saída do perdão!
Jesus leva aqueles homens a olharem dentro de si e a se reconhecerem pecadores se não como aquela mulher ao menos não tão distantes dela a ponto de julgá-la. Para Jesus, são justamente os anciãos e aqueles que administram a justiça que devem se reconhecer pecadores. Quando ouvem as palavras de Jesus, um a um joga a sua pedra no chão e se vai. Na prática, Jesus está dizendo: “hoje ninguém deverá morrer, todos merecem viver!”, inclusive a criança indesejada que surgiu do adultério ou de uma noite de prazer cujo nome é fornicação.
O quadro se completa com uma belíssima imagem do ensinamento de Jesus. Àqueles que se defrontam com a própria culpa, Jesus ensina que a maneira de transformá-los é através da acolhida e, em sua defesa, devem ser abertas as portas da vida e dos sepulcros nos quais deveriam se esconder: “Eu não te condeno. Vai, e, de agora em diante, não peques mais”.
Com essas palavras Jesus nos ensina a diferença entre Deus e o ser humano. Somente Deus é capaz de dar a vida, uma vida nova, vida que somente é vivida no encontro com Jesus. Aqueles que o encontraram um dia encontraram um amor diferente de qualquer outro amor: “Quem beber dessa água nunca mais terá sede!”, dirá Jesus à Samaritana. Quem encontra em Jesus a salvação não deve mais sair para comprar ou vender o amor, porque descobre que o amor é um dom, uma graça!
O ensinamento que Jesus dá no seu Templo é que Deus é um Pai misericordioso que se inclina sobre os seus filhos feridos pelo pecado, todos os filhos, porque seu coração é feito de justiça: “nem eu te condeno. Vai, e não peques mais!”.
Se entendermos a Páscoa desta maneira, talvez será mais fácil viver estes últimos dias da quaresma – tempo de nos aproximar de Deus e escutar as suas palavras – e compreender que a manhã da Páscoa chegará com uma vida nova para nós, como aconteceu com aquela mulher pega em adultério.
Pe. Pedro Pereira Borges
Pró-Reitor de Pastoral UCDB
Evento será realizado em sala de aula no bloco A
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