Artigo: A noite do amor

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Jesus nos ensina o mandamento do amor somente depois que Judas saiu do Cenáculo. No Cenáculo também se deu a ruptura da amizade porque Judas traiu preferindo a amizade de Satanás à amizade de Jesus. O evangelho de hoje, de João 13,31-33.35-36, relata que quando Judas sai é noite. É a noite da amizade, do amor.
Jesus, depois dessa saída, não fica como uma estátua de um herói impassível sobre um pedestal e distante de nossa vida real. Jesus está perturbado e sofre profundamente por causa da saída de Judas. Sofre porque seu amor não foi compreendido justamente quando mostra que ama a ponto de dar a sua vida.
É incrível que justamente agora se repita o ensinamento do amor, justamente quando se compreende que amar é difícil e arriscado. Jesus não volta atrás e dá o mandamento novo, porque acredita de verdade e sabe que é o amor que salva da noite que envolveu a traição de Judas e que corre o risco de envolver também os outros.
O mandamento de Jesus é este: “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”. Nós, os discípulos de hoje, recebemos esse mandamento para construir uma comunidade, uma família e uma sociedade que se caracterizam pelo amor e por nenhuma outra coisa.
É difícil amar, perdoar, servir. Mas é a partir do amor que a nossa identidade cristã se tornará clara para todos e antes de tudo para nós mesmos. E é sobre o amor que devemos construir a Igreja, a nossa família e a nossa sociedade.
Não é a torre mais alta ou a procissão mais demorada que torna bonita a comunidade paroquial mais bonita, mas são as relações que os cristãos vivem entre si e com os mais necessitados que dirão se somos discípulos de Jesus ou não.
Conta um padre que, durante um funeral numa igreja de Roma, assim que falou do perdão, os parentes da falecida disseram: “não, jamais!” e se levantou a voz do racismo contra os imigrantes, pois quem havia matado a jovem havia sido uma mulher estrangeira. É a dor forte que faz falar assim e isso é compreensível quando um filho nosso é morto por um traficante ou por um policial. Mas seria terrível se a noite do ódio envolvesse para sempre quem sofreu um golpe tão terrível. Seria a morte da fé e o tombo mais horrível da comunidade cristã.
Quando fazemos a experiência do não amor e da violência não devemos perder a coragem e não devemos ceder nem um segundo na fé de que o amor é o primeiro e único mandamento que é capaz de dar sempre de novo vida à terra e a nós mesmos.
Toda vez que ficamos do lado de quem julga, de quem odeia, de quem pensa somente em si mesmo e na vingança, naquele momento estamos junto de Judas e também saímos do Cenáculo dos amigos de Jesus. E se saímos, logo encontramos a noite que nos espera e nos envolve deixando-nos sozinho.
Portanto, o mandamento de Jesus é este: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Não importa a situação na qual eu estou vivendo. Do contrário, como nós vamos mudar o mundo para melhor?

Pe. Pedro Pereira Borges

Pró-Reitor de Pastoral UCDB