Artigo: A salvação está na solidariedade, com o coração aberto

13/12/2009 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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Em nossa caminhada para o Natal, chegamos ao 3º Domingo do Advento. Como já se tornou tradição nas comunidades cristãs, hoje se acende a terceira vela da coroa do Advento. Essa terceira candela convida a comunidade a viver a alegria e o júbilo pela aproximação da chegada de Jesus. A cor litúrgica de hoje, o rosa, indica justamente o Domingo da Alegria, no qual transborda nosso coração de alegria pela proximidade da chegada do Senhor. Esta vela lembra ainda a alegria celebrada pelo rei Davi e sua promessa que, agora, está se cumprindo em Maria.

A antífona de entrada deste domingo coloca a comunidade nesse clima, incitando os cristãos a encherem seus corações de alegria: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Exultai de alegria: o Senhor está perto”. Ao mesmo tempo, a oração da coleta, logo após o ato penitencial, pede a Deus o seguinte: “fazei-nos chegar às solenidades da nossa salvação e celebrá-las com renovada alegria”.

Quanto mais nos aproximamos do Natal, mais perguntas vão surgindo em nossos corações. Se Jesus já veio um dia, por que ficar celebrando de novo o seu nascimento? Por que algumas figuras são colocadas no centro da celebração, quando, na verdade, o centro de tudo deve ser Jesus?

Essas perguntas são secundárias. O importante é saber que nós nos colocamos diante de dois acontecimentos maravilhosos da história da nossa salvação, como o próprio São Paulo escreve a Tito: “Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens, ensinando-nos a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, e a viver no mundo presente com toda a sobriedade, justiça e piedade”. Essa explicação paulina fala da primeira vinda de Cristo, aquela que aconteceu em Belém. Mas Paulo continua dizendo que nós continuamos “aguardando a bem-aventurada esperança e a manifestação gloriosa do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo”, que é justamente a segunda vinda de Jesus.

Comemorar o nascimento de Jesus é como comemorar o nosso nascimento. Todos os anos, nós convidamos os amigos para celebrar conosco essa data especial. Da mesma forma, comemoramos o nascimento de Jesus porque esse acontecimento mudou a história da humanidade. Se você um dia se fez presente no mundo, mediante o seu nascimento, o próprio Deus se fez presente no mundo com uma intenção única: dar aos homens de boa vontade a possibilidade da salvação.

Neste domingo, nós fazemos isso com intensa alegria. E a pergunta mais importante que o evangelho de hoje, de Lucas 3,10-18, faz é esta: “o que devemos fazer?”.

Para cada pessoa, João Batista, que prepara a vinda de Jesus, dá uma resposta. À multidão, ele pede que não deixe ninguém nu, se alguém tem duas mudas de roupa; aos cobradores de impostos, João diz para não cobrarem mais do que o devido. Até os soldados se sentiram questionados pela pregação de João Batista. A eles, o precursor de Jesus respondeu que não deviam extorquir o dinheiro de ninguém à força.

Depois, João fala de Jesus, porque a multidão pensava que ele fosse o Messias: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga”. E João anunciava de muitos modos a Boa Nova.

Por que todas essas perguntas? É preciso ler os versículos anteriores a esta leitura para entender por que João Batista dá essas respostas ao povo, aos cobradores de impostos e aos soldados. Ele quer, sobretudo, explicar o que significa o arrependimento. Para ele, que vivia no deserto, não bastam palavras nem títulos. Um filho de Abraão deve demonstrar sua herança por meio de atos, o que é feito principalmente repartindo os bens com os pobres e praticando a justiça social.

Os dois grupos que vão até João, além do povo, são profissionais considerados suspeitos pelos fariseus. São eles os cobradores de impostos e os soldados. Os cobradores de impostos se enriqueciam com facilidade, impondo uma carga excessiva de tributos ao povo, e os soldados eram judeus que se haviam alistado na força de paz romana e deviam agir de acordo com a ordem dos seus comandantes e não conforme os costumes judaicos. Porém, em nenhum momento, João exige que eles abandonem suas funções. O que pede deles é que desempenhem suas atividades com justiça e honestidade.

Diante dessas respostas, João se sente incomodado com a ideia que o povo faz dele. Para afastar qualquer possibilidade de ser considerado o Messias anunciado pelos profetas, ele usa de palavras claras: “vem aquele que é mais forte do que eu”. Em comparação com o Messias, João se considera inferior ao mais humilde dos escravos: somente a um escravo não judeu poderia ser ordenado que desatasse a correias das sandálias do seu senhor, e João não se atreve nem a fazer isso.

Além disso, João compara o seu batismo com o de Jesus. A questão não é que um batismo é com água e o outro no Espírito Santo e no fogo, pois, desde o início a Igreja sempre batizou com água, mas que o batismo de João é apenas na água. Esse batismo é um sinal ritual que expressa exteriormente o que a pessoa deve expressar interiormente.

O batismo de Jesus será definitivo: será um ato de Deus que traz salvação, pois é realizado no Espírito Santo, e no julgamento, simbolizado pelo fogo. A imagem do fogo é usada no sentido de separar o trigo do joio ou mesmo de sua palha que é refugada. Uma pá joga a mistura para o ar, os grãos de trigo, mais pesados, caem no chão, enquanto que o refugo é soprado para longe, para ser queimado mais tarde, como dizia o profeta Isaías: “Tu, malhado por mim, grão do meu terreiro, o que ouvi do Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, eu te anunciei” (Is 21,10).

Os evangelhos destes domingos do Advento insistem na necessidade de vigiar, pois ninguém sabe quando o Senhor chegará no fim dos tempos (1º Domingo); falam do ministério de João Baptista (2º e 3º Domingos); descrevem a Anunciação do Anjo a Maria e o mistério da Encarnação do Verbo de Deus (4º Domingo).

Continuando com essa vigilância, João Batista, ao falar para a multidão, os cobradores de impostos e os soldados, está dizendo para toda a humanidade que ninguém é excluído desta conversão, pois todas as situações humanas podem ser vividas no amor. A salvação está na solidariedade, como João orienta: ao povo recomenda a partilha; aos poderosos recomenda o respeito à pessoa sem exploração; aos militares recomenda a não violência. São nossos problemas básicos também. São as questões que Jesus enfrenta no deserto.

Em suma, ao aproximar-se o Natal, aumenta o clima de abertura do coração. O profeta mostra a alegria da salvação. Deus não nos condena. Paulo manda que nós nos alegremos porque o Senhor está próximo. Aliás, este domingo é chamado domingo da alegria que vem da salvação. João Batista abre caminho para todos poderem viver a salvação. Ensina a partilha, o respeito para com o povo, não usando violência nem exploração. João mesmo reconhece que sua missão não é para si, mas para abrir caminhos para a vinda do Senhor. Para nós, o Natal não é uma festa que dura até depois do almoço no dia 25, mas faz de nós mensageiros da alegria a todos que encontrarmos (Santuário de Aparecida).

E você, sua família, seus colegas de trabalho, a sua comunidade o que devem fazer para esperar o Senhor?

Vivamos este dia na alegria, porque o Senhor quer estar no mais profundo do nosso coração. Convertamo-nos, porque para que Jesus possa caminhar ao encontro de cada homem e apresentar-lhe uma proposta de salvação, é necessário que os corações estejam livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética que Deus continua, hoje, a nos confiar.

 

Pe. Pedro Pereira Borges

Pró-Reitor de Pastoral UCDB