Artigo: A vinda de Cristo fará surgir um novo dia para a humanidade

15/11/2009 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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Há poucos dias, alguns cientistas ingleses apresentaram o resultado de uma pesquisa feita no Polo Norte. Segundo a pesquisa, lá pelo ano 2020 haverá determinadas épocas do ano em que não mais haverá gelo naquela região. Poucos dias atrás, também assistimos pela televisão às imagens destruidoras do tsunami nas ilhas de Samoa. Diariamente, assistimos às notícias de atentados suicidas que matam dezenas de pessoas no Iraque, no Paquistão e no Afeganistão. Ultimamente, causou comoção geral a ação do militar psicanalista americano Nidal Hasan, que abriu fogo contra os colegas de sua base nos Estados Unidos. Dia sim, dia não, ouvimos também falar da guerra contra o tráfico nas ruas das cidades brasileiras.

 

Quem olha esses acontecimentos sob o ponto de vista religioso, mas não está devidamente formado na fé, pode dizer: o fim do mundo está chegando. E, no evangelho deste 33º domingo do tempo comum, o penúltimo do ano litúrgico, Marcos (13,24-32) parece trazer mais fogo para o palheiro das nossas mentes. Ele coloca na boca de Jesus as palavras sobre o fim de uma era e o início de outra. As imagens são do tipo apocalíptico. Infelizmente, muitas pessoas tratam desse assunto como um momento de confusão, alguma coisa que não é possível compreender.

 

O apocalipse não fala de fim, não fala de confusão, não foi escrito para trazer medo às pessoas, mas para trazer esperança. Por isso, toda religião que se preza não fala de catástrofe, mas fala de utopia, de esperança, de um futuro de paz, no qual as pessoas irão agir de acordo com o projeto de Deus.

 

Leiamos o evangelho: “Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas. Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra. Aprendei, pois, da figueira esta parábola: quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto. Assim também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Filho do Homem está próximo, às portas. Em verdade vos digo, esta geração não passará até que tudo isto aconteça. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai”.

 

As imagens são fortes. Falam de escurecimento do sol, perda do brilho da lua, as estrelas caindo do céu e que as forças do céu serão abaladas. Essas imagens são marcadas pela situação pela qual passava a comunidade de Marcos. Os seguidores de Cristo haviam visto a queda de Jerusalém, os cristãos eram perseguidos tanto pelos judeus quanto pelos romanos, parecia não haver esperança. A comunidade precisava se decidir entre ser fiel e Jesus ou a voltar a viver o antigo paganismo.

 

O sol, a lua e as estrelas eram os deuses adorados pelos pagãos. Com essas imagens, Marcos está querendo dizer que tudo isso vai ruir, tudo isso vai perder o seu sentido, porque os que se mantiverem fieis verão “o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra”. Isto é, após a queda dos deuses pagãos, haverá o momento do reinado de Cristo, que jamais abandonará aqueles que confiaram suas vidas ao Filho de Deus.

 

Portanto, a mensagem de Marcos aos fiéis de sua comunidade é uma mensagem de esperança e não de destruição, como muitos possam até pensar. No mundo, há tantos sinais de vida, como por exemplo, as plantas que perdem suas folhas e que se renovam a cada ano. Isso é sinal de que Deus não se esqueceu da humanidade. Ao contrário, Ele está sempre atento às nossas necessidades.

 

E Jesus garante: “Em verdade vos digo, esta geração não passará até que tudo isto aconteça. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”. O que significa isso? Toda pessoa passa por suas dificuldades. Às vezes parece que a família vai desmoronar, um filho entra no mundo das drogas, somos visitados por ladrões que nos deixam inseguros, assistimos à corrupção presente no governo, ficamos estarrecidos com esse ou com aquele assassinato de alguém que fazia parte do nosso círculo de amizade. Cada um de nós verá muita coisa na vida que parece que tudo aponta para o fim. Ficamos até desiludidos, e nos perguntamos: será que Deus existe? Se existe, por que não muda a nossa sorte? Até o justo se pergunta: Deus, onde estás?

 

Nós veremos tudo isso na nossa geração. Mas sobre o fim somente Deus sabe quando tudo vai acontecer como nos diz o evangelho: “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai”.

 

Hoje nós assistimos a muitas transformações históricas: após 20 anos da queda do Muro de Berlim, ainda acontecem o desabamento de tantas certezas, que julgávamos indestrutíveis, o desaparecimento de pessoas que julgávamos insubstituíveis, o abandono de certas práticas religiosas que pareciam indispensáveis, o esquecimento de tantos valores éticos e morais que tanto apreciamos e até o abandono da fé de tantas pessoas, que julgávamos fervorosas.

Marcos está nos convidando, como cristãos, a ver a vida presente de maneira criativa, criando a possibilidade de uma nova sociedade cuja plenitude nós somente alcançaremos em Deus.

 

Esse mundo sonhado por Deus é, sim, uma realidade escatológica. Mas desde já, um novo dia está surgindo. Por isso, devemos ser para os nossos irmãos do nosso tempo sinais de esperança diante dessa realidade: gente de fé com uma visão otimista da vida e da história, que caminha, alegre e confiante, lutando pela criação de um mundo novo.

 

Deus não nos abandona na nossa caminhada. Da nossa parte, devemos estar atentos aos sinais de Deus, confiantes nas palavras de Cristo, que nos garante: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão"; e nos promete: “Eis que estarei convosco todos os dias, até os confins do mundo”.

 

Portanto, vivemos o agora de Deus, o tempo presente. Vivemos o Reino de Deus na esperança. Acompanhamos Cristo em seu mistério. Toda celebração é certeza da vinda de Cristo. Estejamos sempre de prontidão. A comunidade vivia o tempo da expectativa de um fim próximo, mas não sabia distinguir os sinais de Deus. As conturbações não são um mal, são uma alerta para que estejamos em atitude de vigilância constante. O fim não é para a condenação, mas para a salvação. Se aprendermos a ler os sinais dos tempos, saberemos quando será.

 

Jesus avisou os discípulos que haveria perseguição por causa do Senhor e do Evangelho. É preciso estar de sobreaviso. Mas há esperança, pois Deus é o refugio e a garantia diante de qualquer calamidade. Não se trata de fuga, mas de uma escolha. Deus é a herança. Tudo pode acontecer, mas a Palavra de Jesus não passa. Em cada geração ela acontece e garante para nós que Deus não passa. A comunidade reunida sempre espera e se fortalece no Senhor.

 

Que esta seja a nossa esperança no findar deste ano litúrgico. Paz a todos!

 

 

Pe. Pedro Pereira Boges

Pró-Reitoria de Pastoral

 

 

 

 

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