05/12/2010 - 0:00 - UCDB
Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges
Veja as últimas notícias da UCDB para você que está interessado em UCDB
Nestes dias os jornais e as televisões de todo o mundo estão revelando o grande furo de notícias, publicado pelo Wikileaks: relatórios de várias embaixadas e de funcionários dos serviços secretos descrevem os “inimigos” nos seus trabalhos, dossiês reservados expõem os perigos nas relações entre países e desenham cenários de conflitos, nos quais é muito importante buscar conhecer com antecedência o outro para neutralizá-lo, para defender-se dele, para evitar que ele ataque.
Assim funciona a diplomacia: por detrás dos sorrisos oficiais existe todo um mundo de suspeitos, de técnicas que têm como finalidade a prevenção, a defesa contra o outro.
As leituras deste segundo domingo do advento parecem desenhar, ao contrário, em contraste com aquilo que está acontecendo hoje no mundo, um cenário oposto: a relação com o outro é descrita como livre de suspeita e purificada na raiz, graças à intervenção de Deus.
Aquelas que poderemos definir como “dificuldades naturais de relacionamento” são apresentadas na liturgia de hoje como superáveis, com a graça de Deus.
É interessante notar como as categorias em “dificuldades naturais de relacionamento” são tratadas, nas três leituras de hoje, em três níveis diferentes e ascendentes. A primeira categoria é a da relação conflitual entre os animais, a segunda é a categoria conflitual entre os homens e a terceira é a categoria conflitual entre os homens e Deus.
A reconciliação entre “inimigos naturais”
No mundo animal existe a luta pela sobrevivência: a cadeia alimentar faz com que o lobo seja inimigo do cordeiro, que o leopardo estraçalhe o cabrito, que o leão mate o vitelo, a ursa engane a vaca.
E mesmo assim o profeta Isaías, em uma de suas páginas mais bonitas, apresenta-nos uma mensagem de paz e reconciliação quase surreal: a vinda de Deus faz cessar esses conflitos naturais e realiza aquilo que é impossível no plano natural.
A reconciliação apresentada pelo profeta é claramente simbólica: não devemos nos fixar no simples detalhe, mas buscar colher a perspectiva do conjunto: trata-se de uma visão de fé que nos fala de uma novidade extraordinária.
A vinda do rebento, que desponta do tronco de Jessé, figura do Messias que descende da dinastia de Davi, inaugura uma nova relação na natureza: a Graça entra no mundo e o atinge em todas as suas dimensões, inclusive a matéria e o mundo animal.
A violência, o assalto, a lei do mais forte, a agressividade, começam a perder a sua força natural e abrem espaço para o respeito pela natureza, para a convivência pacífica, para a mansidão.
O Papa, na Spe Salvi, lembra-nos com força que acreditar na utopia da paz como fruto da intervenção de Deus na história não é um ato de ingenuidade.
Evidentemente, neste mundo não será possível ver realizada já em plenitude a profecia de Isaías, mas o broto no tronco de Jessé inaugurou o tempo novo, que encontrará a plenitude na reconciliação universal, com a vinda de Jesus.
Neste tempo de Advento, esforcemo-nos por olhar Jesus como aquele que possui em plenitude o Espírito, com os seus sete dons: é o Cristo da fé.
A sua vinda na nossa natureza traz consigo os dons da sua divindade e inaugura os últimos tempos.
A reconciliação entre os homens
A leitura da carta aos Romanos descreve uma capacidade de acolhida sobrenatural entre inimigos “culturais”, que não se bicam por causa da pertença a diversas tradições religiosas. “A reconciliação que acontece nas comunidades cristãs, entre crentes que provinham do hebraísmo e do paganismo, é sempre sujeita à provisoriedade, ao equilíbrio instável: existe no presente, mas nos confia uma esperança para o dia de amanhã. Ela é, todavia, o sinal do mundo reconciliado com Cristo, no qual não são levados em consideração os privilégios de raça e tudo aquilo que nos separa, mas leva em consideração, ao contrário, a única coisa que une: a fé em Cristo salvador.
Quando nós cristãos rezamos para que a humanidade possa ser reconciliada, em todo o mundo, não estamos perseguindo apenas um projeto impossível. É verdade que existem guerras e divisões, desequilíbrios e discriminações, mas nós acreditamos que a salvação definitiva é obra de Deus que vem e que virá.
A nossa parte consiste em nos oferecer como colaboradores nesse projeto de paz que tem Deus como artífice e inspirador.
Aqui volta mais uma vez o motivo da esperança: “em virtude da perseverança na consolação que provêm das Escrituras, mantenhamos viva a esperança”.
O tempo do Advento é tempo de espera e esperança, mas também tempo no qual incrementamos a fé em Deus: “É Deus que governa o mundo, não nós. Nós lhe prestamos o nosso serviço apenas por aquilo que podemos e a fim de que Ele nos dê a sua força. Fazer, porém, aquilo que é possível para nós com a força que temos é a tarefa que mantém o bom servo de Jesus sempre em movimento” (Deus Caritas est).
A reconciliação com Deus
O evangelho do segundo Domingo do Advento nos apresenta a figura de João Batista, que convida à reconciliação com Deus por meio da conversão pessoal e comunitária. Também aqui volta a perspectiva da espera e da esperança: “convertei-vos, porque o Reino de Deus está próximo”.
Jerusalém, toda a Judeia e toda a zona ao longo do Jordão, que fazem procissão para chegar a João, confessando os próprios pecados e recebendo o batismo de penitência, são a imagem da Igreja que, no tempo do Advento, começa a reconstruir uma relação com Deus através de um fruto digno da conversão e um esforço no mundo.
Também João abre a porta à esperança, anunciando a vinda d’Aquele que “vos batizará no Espírito Santo e no fogo”: o Cristo, sobre quem repousa o Espírito com os seus sete dons.
O tempo do Advento é um momento forte para nós, para crescer na relação pessoal com Deus através da oração e da penitência, na relação com os outros, através da reconciliação e do perdão, e na relação com a criação, através do respeito e da paz.
Evento será realizado em sala de aula no bloco A