Artigo: Caro Tomé

11/04/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Padre Pedro Pereira Borges

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Meu caro irmão gêmeo, Tomé,

Parece estranho escrever uma pregação em forma de carta. Mas andei lendo na Bíblia o que o Evangelho de João (20,19-31) fala sobre você, e resolvi escrever-lhe.

Explicando melhor: todo ano, depois de todo o envolvimento com a festa da Páscoa, pontualmente nos reencontramos com o evangelho que fala sobre a experiência que você teve com Jesus ressuscitado. O motivo é simples: seu colega, João, que, além de discípulo virou evangelista, nos diz que tudo aconteceu oito dias depois da aparição de Jesus, quando as portas as portas do Cenáculo estavam fechadas por medo dos judeus. Na verdade, estou cheio de ver você ser descrito como incrédulo. Todas as vezes que alguém não acredita em algo logo se diz que é um Tomé da vida. Nós crescemos com isso. A sua fama chegou até nós com essa pecha da incredulidade. Mas é sempre assim que estamos acostumados a ler o que Evangelho de João escreveu sobre você. O nosso cérebro parece já funcionar como um computador, no modo de espera, escutando sempre o que ele diz como se fosse uma historinha do tempo da vovó, sem querer aprofundar sobre aquilo que deve nutrir a nossa vida e a nossa fé.

Pois é, Tomé, lendo com atenção o relato de João, também é possível compreender que você acreditou em tudo no Mestre Jesus, até mais do que estamos acostumados a ouvir falar. Das palavras duríssimas que você disse, ressentidas, intui-se o desencanto que envolveu seu coração no dia seguinte à crucifixão. Sem fé? Que nada! Ao contrário, carola! Você tinha um entusiasmo diferente dos outros seus onze colegas, também discípulos de Jesus. Olhe, Tomé, eu me reconheço muitas vezes em você, vejo você sempre no rosto de muitos irmãos desencorajados e desiludidos depois de terem dado alma a um sonho, a um projeto. Quanto mais voamos alto, pior a queda, diz o ditado. Embora Jesus tivesse preparado os discípulos, você talvez não esperasse pela cruz. Nela pregaram seu Mestre e com ela também a sua vida, pondo fim a todos os sonhos que você teve com Ele. E vejo você – assustado, atônito – escutando seus colegas, os discípulos. As feridas espirituais sangraram copiosamente dentro de você enquanto seus colegas – alegres – contavam para todo o mundo que viram o Cristo vivo, ressuscitado. João, que estava no Cenáculo, escreveu somente a primeira parte daquilo que você disse, talvez a frase mais dura que saiu do seu coração: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei”. Por respeito a você, João foi educado ao não relatar as outras palavras que você disse com raiva e com vontade de chorar.

Mas eu imaginei: “Você, Pedro? Você, André? E você, Tiago? Vocês me dizem que Jesus está vivo? Nós todos fugimos quando Jesus foi preso. Como posso acreditar em vocês?”.

Tomé, você tem razão. Todos os dias encontro muitos cristãos como você, feridos pelo péssimo testemunho nosso de discípulos, escandalizados pelo abismo no qual deixamos despencar a nossa fé e a nossa vida, incapazes que somos de acreditar no evangelho. Nisso nós somente mostramos a nossa pequenez. Mas – e isso é o que me assombra – João nos diz que oito dias depois você estava ainda com eles. Não estou nem aí, caro Tomé. Você ficou olhando para a cara de cada um deles. Você queria compartilhar com eles um pouco da sua tristeza pela saudade de Jesus.

Finalmente aconteceu: Jesus ressuscitado também apareceu para você. Viu como Ele ama você? Ele lhe mostrou os buracos dos pregos nas mãos e nos pés e o seu lado aberto pela lança. Também você pôde ouvir aquela frase linda – não de reprovação que Ele disse “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!” – queria dizer: “Tomé, sei que você sofreu muito. Olhe, também eu sofri por você!”. E quando você olhou aquela feridas ainda não cicatrizadas, deixou que uma torrente de lágrimas brotasse de seus olhos. Você se deixou envolver pelo amor e pela fé a ponto de se ajoelhar e foi você que, por primeiro, ousou dizer aquilo que ninguém antes havia ousado sequer pensar: Jesus é Deus!

Tomé, eu agradeço pela maneira como o nosso comum Senhor tratou você. Não creio que seja pelo fato de que seu amigo João ter chamado você de “Dídimo”, isto é, Gêmeo, que, de fato, me acho parecido com você!

 

Quero confiar você, meu caro irmão gêmeo, todos aqueles que – como você – ainda não tiveram a oportunidade de conhecer o Senhor: aquele que consome drogas e às vezes quer quebrar tudo lá em casa; aquele que gosta de ajudar as pessoas, mas, infelizmente, é alvejado pelas balas da crítica impiedosa; os tantos irmãos que perderam seus entes queridos soterrados no Rio de Janeiro nos últimos dias, por causa das autoridades que só pensam nos impostos, mas que não planejam o desenvolvimento de nossas cidades; todos aqueles que ficaram desiludidos como você; e também os escandalizados por causa dos cristãos: que eles olhem ao Cristo antes que aos seus discípulos fracos na fé.

Até o ano que vem, caro irmão gêmeo. Quero neste tempo viver a bem-aventurança da fé com os mesmos olhos que fizeram você contemplar o Cristo ressuscitado.

 

Pedro Pereira Borges

Foto: http://www.jota7.com/img/noticias/tome.jpg

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