Artigo: Como os Reis Magos, nós contemplamos a Manifestação de Jesus ao mundo

03/01/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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Hoje celebramos três mistérios na grande solenidade dos Santos Reis. Em primeiro lugar, a adoração dos Reis Magos; em segundo, o próprio batismo de Jesus; e, em terceiro lugar, a transformação da água em vinho nas Bodas de Caná, na Galileia. Porém, o Batismo do Senhor é um dia muito especial. Por isso, será celebrado no próximo domingo.

Na celebração de hoje, o acento especial é sobre a Manifestação do Senhor: a vinda dos Magos do Oriente para oferecer a Jesus, que se deita na manjedoura como Menino, a homenagem da sua fé e o reconhecimento dele como verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

A festa deste domingo tem um nome especial: Epifania. Essa palavra é grega e significa “manifestação do Senhor”. A liturgia nos leva à manifestação de Jesus, como "Luz" que atrai para si todos os povos. Essa "Luz" encarnou na nossa história e iluminou os caminhos dos seres humanos com uma proposta de salvação.

E o evangelho deste domingo é tirado de Mateus 2,1-2. Mateus conta que no reinado de Herodes vieram ao seu palácio alguns Magos e lhe perguntaram onde havia nascido o Rei de Israel. Herodes ficou perturbado com a pergunta e chamou os sacerdotes e os doutores da lei para poder ajudá-lo. Consultando as Escrituras, eles responderam que o Menino devia nascer “na cidade de Belém, na região da Judéia”.

Herodes enviou os Magos para Belém. Pediu-lhes para lhe trazerem informações certas sobre o Menino para que também ele pudesse ir visitá-lo. Enquanto estavam em Jerusalém, a estrela que guiava os Magos havia desaparecido. Quando eles partiram dali, de novo a estrela apareceu e foi pousar sobre a gruta de Belém. Os Magos entraram onde estava o Menino com Maria, a sua mãe. Então se ajoelharam diante dele e o adoraram. Depois abriram os seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Depois, em sonho, Deus os avisou que não voltassem para falar com Herodes. Por isso, voltaram para a sua terra por outro caminho.

Os Magos são homens da ciência que compreenderam que a luz não era algo normal de acordo com as leis da natureza. A estrela não era um fenômeno que poderia acontecer em qualquer estação do ano. Como homens da ciência, assim como os hebreus, eles acreditam nas profecias. Foi por isso que se puseram a caminho, seguindo a estrela.

Infelizmente, o anúncio do nascimento do Menino em Belém provoca perturbações no centro do poder político de Israel, Jerusalém. Ali, nem os notáveis do povo, representados pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, suportavam mais a tirania de Herodes e a dominação do Império Romano.

No entanto, a própria atitude daqueles que queriam a libertação de Israel não era uma atitude de fé. Eles sabiam ler as Escrituras, mas as palavras dos profetas não soavam fortes o suficiente para fazê-los agir com fé. Por isso, limitaram-se a dar a informação: é na pequena cidade de Belém que nascerá aquele que será o guia de Israel. É como se os habitantes de Jerusalém estivessem dormindo na própria fé. Estavam tão acostumados com a tirania, o domínio, os exílios e as revoltas, que nem o nascimento do Messias os fazia despertar do sono da fé do qual não conseguiam acordar.

Os Magos, no entanto, não perderam tempo. Chegando a Belém, encontraram o Menino e sua família. Deram-lhe como presentes o ouro – reconhecendo a sua realeza –, o incenso – reconhecendo a sua divindade –, e a mirra – reconhecendo a sua humanidade, que seria coroada com a morte. Depois, retornaram aos seus lugares de origem sem passar por Jerusalém.

Esses três homens – Melchior, Gaspar e Baltazar – representam toda a humanidade que vai ao encontro de Jesus e que, aceitando-o como Salvador, o adora. Porém, para quem acredita que o relato de Mateus é uma reportagem jornalística, o texto não tem nenhum valor em si. Mateus quer, ao contrário, fazer uma catequese para os membros de sua comunidade. Ele quer ensinar que Jesus é o salvador para toda a humanidade que se abre à esperança de um mundo novo.

A estrela não é necessariamente uma luz, mas é o próprio Jesus conforme foi anunciado pelos profetas e que, agora, como luz, ilumina a todos os povos e nações. Os Magos representam todo ser humano que busca Jesus e se deixa guiar pela sua mensagem de amor e de paz e não de poder e dominação.

Mateus mostra que Jesus é rejeitado pelo seu povo e acolhido por outros povos. Jesus é o novo Moisés que irá construir uma grande nação de homens e mulheres transformados pelo amor. Israel rejeita Jesus, enquanto que os outros povos o adoram.

Hoje, os cristãos vivem também um momento crucial em suas vidas. Muitos perdem a fé; muitos dizem que acreditam em Deus, mas somente o procuram nos momentos de dificuldade; outros, ainda, conhecendo a Verdade, buscam-na em lugares nos quais Ela não está presente; há também aqueles que se acomodam na segurança de suas riquezas e mantêm uma fé apenas pessoal e não comunitária.

A Manifestação do Senhor ao mundo quer abrir os nossos olhos para que vejamos nos sinais que o Senhor nos envia a presença de Deus no mundo; não podemos ser, no entanto, como os sacerdotes e os doutores da Lei. Eles se mostraram indiferentes aos sinais de Deus; também não podemos ser como Herodes. Ele representa todos aqueles que se tornaram hostis à presença de Deus no mundo; devemos ser como os Magos que, atentos aos sinais de Deus, foram ao seu encontro.

Os Magos nos dão algumas sugestões sobre como devemos procurar a Deus. É preciso ter sensibilidade para distinguir os sinais que Deus nos dá, generosidade para ir à sua procura: “Vimos… e viemos…". Os magos aceitaram o convite e não perderam a esperança: nem mesmo na incompreensão dos habitantes de Jerusalém, nas dificuldades da longa caminhada, na ignorância e maldade de Herodes, na indiferença dos sacerdotes eles se deixaram abater. Quando chegaram a Belém, não estranharam sequer a simplicidade da gruta na qual estava aquele que era considerado o Rei dos judeus.

Tudo isso quer dar para nós uma lição: ainda há espaço para Deus em nossos corações. Em nosso encontro com Ele, não podemos, no entanto, ir de mãos vazias. Os Magos ofereceram ao Menino o que tinham de melhor. E nós, o que podemos oferecer a Jesus? Certamente Ele gostaria de ganhar um pouco do nosso tempo, um espaço no nosso coração, a partilha dos nossos dons.

De qualquer forma, o trecho de Mateus sobre a visita dos Magos é um reflexo daquilo que costuma acontecer a todos os cristãos no seu caminho de fé: viram a estrela; interpretaram o seu significado; puseram-se a caminho; perseveraram, apesar dos obstáculos; procuraram apaixonadamente o encontro com o Senhor; caindo de joelhos, adoraram-no e ofereceram-lhe presentes; regressaram por outro caminho, iluminados por aquilo que tinham vivido.

Se nós dermos o nosso coração a Jesus, também lhe daremos o dom da nossa vida. O nosso ouro e prata, os nossos bens mais preciosos, os nossos dons mais elevados serão inteiramente consagrados àquele que nos amou e se entregou a si mesmo por nós.

Como cristãos nós já fazemos a experiência do que é o encontro com Deus; mas, nem por isso, podemos deixar de procurá-lo. Pelo contrário, a fé deve nos abrasar o coração e nos levar a dar novos passos em nossa procura e a assumir novos compromissos com Deus e os irmãos. Nós devemos nos manter nessa atitude de procura e na alegria em expressar que o encontramos na simplicidade da nossa vida. Nem podia ser de outra forma, Ele é o Deus conosco, não fica de fora do nosso dia a dia.

Foto: http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/Semiramis%20Rubens_The%20Adoration%20of%20the%20Magi.jpg

Pe. Pedro Pereira Borges - Pastoral UCDB