14/03/2010 - 0:00 - UCDB
Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges
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Sexta-feira passada, antes de iniciar a missa, puxei prosa com um pai que havia recentemente levado seu filho para São Carlos. O adolescente de apenas 17 anos havia conseguido passar no vestibular na Universidade de São Carlos. O momento mais marcante para ele foi aquele no qual, antes de sair de casa, seu filho estava tirando a roupa do armário para arrumar a própria mala. Ele, como pai, chorou. 17 anos ali, com ele, haviam sido suficientes para saber de quase tudo o que filho precisava. Faltava apenas que ele se decidisse sobre o que fazer na vida. Foi aí que houve esse “divórcio” amigável – sem separação do amor e dos bens, porque o amor não separa e ainda faltam os últimos cuidados para que o filho se torne definitivamente independente – entre a família. Outro pai estava ali perto. Entrou na conversa e disse que pior do que ver o filho saindo para estudar é ver a filha se preparando para o casamento. No início, tudo parecia resolvido, mas depois a filha se foi e só volta de seis em seis meses.
Em nenhum desses casos, há o que está acontecendo, por exemplo, na Itália. Lá, um deputado colocou em pauta na Câmara um projeto que, se aprovado, obrigará os filhos maiores a deixarem a própria casa. O problema é que muitos pais devem conviver com o filho trintão, quarentão, cinquentão, vivendo às suas custas, viajando de cá para lá, sem se importar com o próprio sustento.
Independentemente das leis, existe um vínculo carnal, sanguíneo e afetivo entre pais e filhos. Além das separações causadas pelos estudos, há muitas outras separações mais dolorosas que acontecem dentro das famílias, mesmo que nem sempre os próprios filhos saiam de casa. Existem pais que, antes mesmo de prover os filhos de todo o necessário para que eles enfrentem a vida, deixam de assisti-los no básico, no mínimo necessário.
A história que melhor retrata essas idas e vindas na família é mais conhecida como a parábola do Filho Pródigo ou a parábola do Pai Misericordioso, descrita em Lucas 15,1-3.11-32. Tudo começa com uma discussão entre Jesus e os fariseus, porque alguns publicanos e pecadores se aproximaram dele para ouvi-lo. Diante da pergunta sobre o porquê Ele comia com os pecadores, Jesus lhes conta a parábola do filho de um pai rico que, num determinado momento, quis fazer uma experiência diferente no mundo. Pediu ao pai para lhe dar aquilo que tinha direito e partiu como se nunca mais fosse voltar. O filho, no entanto, não estava preparado para a vida. Recebeu o dinheiro, certamente alugou um apartamento longe de casa, e passou a viver uma vida desregrada, na companhia de amigos nem sempre aconselháveis e desfrutando ao máximo do que o dinheiro lhe podia dar. Um dia, a fonte secou. Sem dinheiro e sem amigos, não tendo experiência para trabalhar, teve também que aceitar os “piores” empregos, e tinha que trabalhar com fome. Quando a vida já lhe parecia sem sentido, lembrou-se de casa. Imaginou uma maneira de voltar para os seus, sem pensar que o pai já o aguardava. Voltando para casa, foi perdoado pelo pai, mas não pelo irmão mais velho que havia ficado em casa. O irmão mais velho não aceitava o retorno do pai porque certamente queria a herança toda para si. Era tão “mão de vaca” que nunca organizava uma festa para os próprios amigos. Quando viu o irmão e a festa que o pai lhe havia preparado ficou com raiva e se retirou. O pai, no entanto, lhe disse: “filho, o que é meu é teu. Mas era necessário que festejássemos a volta do teu irmão. Ele estava morto e voltou a viver. Estava perdido e foi reencontrado”.
Para este quarto domingo da Quaresma, fiquemos com duas reflexões tiradas deste trecho de Lucas. A primeira é sobre o pai. Esta palavra foi dita por três vezes pelo filho mais novo, mas nunca pelo filho mais velho. O protagonista da parábola, no entanto, é o pai. O evangelista deixa transparecer ainda que há no texto uma inversão das autoridades. São os filhos que têm ascendência ou autoridade sobre o pai. É um pai obediente aos filhos e que aceita, na liberdade, dividir a herança, espera o filho que vem de longe, ordena que se faça a festa pelo retorno do filho pródigo, sai para acolher o filho mais velho enraivecido, fala-lhe e o faz refletir. A pergunta que fica é esta: que imagem de Pai Jesus quer dar? É a imagem de um Pai que vai ao encontro dos filhos e faz festa quando eles voltam para casa.
A segunda reflexão é sobre a alegria. Esse sentimento é mostrado por Jesus no pai que abre os braços para acolher o filho que volta; é visto na festa que o pai organiza por causa do retorno do filho mais novo. Se pudéssemos confrontar essa parábola com as situações dos pais que vimos acima, eles são uns privilegiados. Seus filhos voltarão ou voltam sem as olheiras causadas pelas noites mal dormidas ou consumidos pela fome. No pai da parábola, nós vemos que a alegria está presente, como um denominador comum, por causa da recuperação do próprio filho. Se assim acontece com Deus, nós também devemos nos alegrar por cada retorno de nossos filhos à nossa casa. E muito mais porque o filho mais novo deixou de lado as noitadas de prazer, que lhe poderiam trazer uma doença sexualmente transmitida, as bebidas e as drogas, que lhe poderiam consumir as meninges a ponto de estragar o funcionamento do cérebro e outros órgãos vitais do seu corpo. O pai se alegrou porque até o mais vil dos homens pode encontrar abrigo na sua casa.
Certamente, o pai da parábola chorou quando seu filho saiu de casa. Sua dor era maior porque não tinha a certeza de que ele retornaria. Para os pais que vivem o drama de terem que enfrentar as situações de risco nas quais seus filhos se expõem, resta a esperança desse pai da parábola, que fica em casa olhando para ver se, ao longe, não desponta a silhueta do seu filho que volta.
Caros pais, se seus filhos saíram para estudar ou por outro motivo, reze para que possam se realizar profissionalmente. Eles sabem que em casa vocês estarão sempre esperando por eles com alegria.
Imaginem agora a alegria do pai que vê seu filho recuperado dos males que existem neste mundo. É a mesma alegria de Deus pelo pecador que se converte; é a mesma alegria da mulher que recupera a sua joia perdida; é, também, a mesma alegria do pastor que encontra a ovelha que se desgarrou do rebanho. Deus se alegra pelo pecador que se converte. Os pais devem se alegrar porque mesmo nas dificuldades existe sempre a esperança de um futuro melhor para os seus filhos.
Se Deus se alegra, nós também devemos nos alegrar. Não podemos ter as mesmas atitudes do filho mais velho que se move pela inveja quando vê que o irmão mais novo tem uma nova oportunidade de se refazer. Saibamos que Deus não aceita nem a inveja nem a incompreensão. Ele apenas estará sempre nos esperando com a alegria de um Pai que vê o seu filho retornando à sua casa.
Pe. Pedro Pereira Borges
Pró-Reitor de Pastoral UCDB
Evento será realizado em sala de aula no bloco A
Inscrições podem ser feitas na internet, basta acessar ucdb.br/possaude