Artigo: Esses fatos aconteceram para serem exemplos para nós

07/03/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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A nós, homens e mulheres ultraconcretos, é muito grata a associação do tipo causa e efeito. Desde que o homem é homem, gostou sempre de pensar, compreender e exercitar a própria inteligência. E isso é bom porque, no fundo, é uma das pouquíssimas possibilidades que temos à nossa disposição para ver como funciona o mundo, como a vida é feita. Aquele Cogito, ergo sum, de Descartes, geralmente falando, é significativo para aquilo que quer dizer “ser pessoa humana”.

Essa capacidade que recebemos de Deus deve nos ajudar não somente a compreender as conexões de causa e efeito no mundo material, mas também a descobrir as dinâmicas do mundo espiritual que está dentro de nós como um grande abismo. Como compreender tantas situações nas quais o ser humano está envolvido?

É isto que Jesus pede de nós no evangelho de hoje, de Lucas 13,1-9. Como seria bom se conseguíssemos entender a essência daquilo que Ele está dizendo a nós através dos exemplos que está usando! Como seria bom poder ler as coisas que estão acontecendo hoje! Não é bom também ficar somente olhando as coisas ruins que nos acontecem. No entanto, quanta coisa está acontecendo: os terremotos devastadores ocorridos no Haiti e no Chile e, com menor intensidade, em Taiwan. Quantas pessoas morreram? Mais de 800 no Chile e mais de 150 mil no Haiti. Podemos dizer que os galileus mortos por Pilatos e os que foram soterrados em Siloé não são nada diante das desgraças de hoje. Porém, podemos também nos perguntar: quantas pessoas são sacrificadas pelos poderosos por motivos, dizem, de interesse nacional que, no fundo, são somente interesses políticos, ou, ainda mais grave, interesses estritamente de poder pessoal!?

De fato, há uma avalancha de desastres no mundo. São Paulo nos diz na segunda leitura que “esses fatos aconteceram para serem exemplos para nós”. Entre outras coisas, Jesus sentencia: “se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”. É humano, é normalíssimo, diante das tragédias do mundo, a gente perguntar: “mas, caramba, é preciso mesmo acontecer uma cosia dessas!? O que Deus está fazendo que deixa isso acontecer? Ou, melhor, onde está?”.

Olhem que Jesus, mesmo deixando entender, nas entrelinhas, o desagrado por aquelas pessoas que sofreram a desgraça cometida por Pilatos e na queda da torre, não coloca a pergunta sobre Deus. Não porque não podia fazê-lo – e aqui podemos nos lembrar do seu grito sobre a cruz: - Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Que quer dizer: “Deus, onde está agora? Por que me deixaste aqui sofrendo sozinho? Jesus não faz esta pergunta, mas lança uma outra provocação: “se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”.

O filme Shadowlands – Terra das sombras, em português – fala do relacionamento entre um professor de Oxford, C.S. Lewis, representado por Anthony Hopkins, e uma escritora americana, Joy Gresham, representada por Debra Winger. Após alguma correspondência, Gresham decide-se a fazer a sua primeira visita à Inglaterra. Foi recebida com cortesia por Lewis, mas este não sabia mais o que fazer quando descobriu sua ardente paixão por Gresham.

No filme, num determinado momento, Lewis, dando uma aula sobre o tema do sofrimento no mundo em conexão com a existência de Deus, afirma: “a dor é o megafone de Deus que acorda um mundo surdo”. Não sei se essa afirmação agrada às pessoas; tampouco é possível saber o quanto estamos de acordo com esse jeito de fazer. Mas, desculpem-me a franqueza, de fato, no nosso mundo interior acontece assim. Se não somos postos à prova, dificilmente a nossa fé pulsará de maneira completa! Se não somos tocados pela cruz, dificilmente o sangue que corre pelas veias do nosso coração se purifica! No mesmo filme, no fim, o mesmo personagem, já transformado pelo sofrimento, afirma: “a experiência é um professor cru. Mas aprendi. Deus, como aprendi!”.

A nós, homens e mulheres esmagados pela lógica, obcecados pela necessidade da causa e do efeito, agrada que as coisas funcionem como nós queremos. E, por sorte, Deus pensa um pouco diferente. Deus, certamente, aceita a conexão causa-efeito, quando ela está a serviço da vida, de uma vida autêntica; mas Deus não transforma essa lógica em uma lei por excelência. Não, Deus “pensa” através, podemos dizer, de outra lógica, ou seja, “amo, portanto sou”. É a lógica do amor que “impele” Deus a ter paciência conosco; e a mesma lógica que, não poucas vezes, mas sempre, anula a conexão “pecado-punição” que, segundo a lógica humana, deveria funcionar sempre e em qualquer lugar. Não, francamente Deus se deixa comover por um vinhateiro qualquer que implora: “Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto”. Deus é assim; esse é o seu modo de agir: confiar e dar sempre a possibilidade de nos converter. Podemos, no entanto, ficar surdos ao apelo pleno de amor de Deus para que nos voltemos para Ele. As desgraças que acontecem no mundo nos entristecem; aliás, não as queremos! Mas, além desse comportamento normal, deixemo-nos questionar por elas. Se alguém é tocado por esse tipo de desgraças, não necessariamente é mais pecador do que nós! Fica, porém, para nós que ainda vivemos, a possibilidade de mudar a nossa maneira de pensar, de converter o nosso coração e de voltá-lo para Deus. E fazemos isso porque Deus está sempre voltado para nós; seus braços estão sempre abertos – olhe o crucifixo, se não acredita –, pronto para nos abraçar. Cabe a nós nos deixarmos abraçar por aqueles braços!

Pe. Pedro Pereira Borges

Pró-Reitor de Pastoral UCDB

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