Artigo: Eu sou aquele que é chamado à vida por Deus

Enquanto fazemos a leitura do Evangelho de hoje, de Lucas 7,11-17, façamos a seguinte pergunta: “Quem sou eu e quem é Você?”.

Jesus chega a uma cidade chamada Naim e percebe que háum enterro. No meio da multidão há uma viúva que segue o caixão de seu único filho. Jesus sente compaixão porque ela não terá ninguém para cuidar dela na sua velhice. Então, aproxima-se do caixão e faz com que seu filho se levante, vivo. O povo fica com medo e glorifica a Deus porque apareceu um grande profeta em Israel.

Como ponto central da nossa reflexão, podemos tomar o rapaz, no momento em que é chamado por Jesus. Levanta-se, olha Jesus nos olhos e se pergunta: “Quem sou eu? Quem é Você?”. Lembrando-nos também de outros textos paralelos que estão na Bíblia, emerge uma única mensagem: “Jesus é o Senhor do homem e da vida”.

Prestemos atenção também no pedido de Jesus: “Não chores!”. Ele é capaz de enfrentar as lágrimas dos homens através do poder da vida que está nele. Lucas relata o milagre lendo já em Jesus o poder que Ele tem sobre a vida e sobre a morte. É um texto que exprime contemplação da força de Jesus sobre poderes maiores da nossa realidade histórica.

Ainda lemos no texto: “Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão”. Jesus é tomado por uma intensa comoção porque está diante do mistério mais negativo da pessoa: a morte. A palavra é a mesma que se encontra na parábola do Samaritano; ela quer expressar, portanto, o amor apaixonado de Deus pela humanidade, a profunda comoção que Jesus tem por nós e que O leva a cuidar de cada um de nós.

Analisemos, por fim, a parte final do texto: “Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: ‘Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo’”. O povo contempla a manifestação da misericórdia de Deus e, portanto, com um profundo olhar de fé, lê na ação de Jesus a presença de Deus criador e salvador do homem.

Reflitamos sobre o texto procurando responder a algumas perguntas sobre o episódio:

Primeira pergunta: o que disse o filho da viúva de Naim? Pelo texto, não sabemos, mas existe uma indicação interessante: o jovem levantou-se, sentou-se e “começou a falar”. A palavra, o saber exprimir-se é a característica de quem está vivo. O jovenzinho nos é apresentado como alguém ao qual Jesus restitui o dom de falar. Acredito que, olhando Jesus, ele tenha compreendido que Lhe devia tudo, tenha compreendido seu poder criador e que, portanto, tenha simplesmente dito: “Obrigado! Obrigado, Senhor!”. Eis a primeira palavra.

Uma pessoa chega a ter consciência de ser amado por Deus, de receber dele a vida, de receber tudo dele a ponto de dizer: “Obrigado, Senhor!”. A primeira resposta à pergunta: “Quem sou eu? Quem é Você?”, é que eu sou alguém que aprendeu a agradecer. Aqui é o momento no qual começo a tomar verdadeiramente consciência de mim mesmo.

Segunda pergunta: o que experimentou o jovem de Naim? Olhando Jesus nos olhos, experimentou o que quer dizer ser amado de verdade por Deus, ouviu o que significa ser compreendido, ser tomado a sério, compreendeu que a vida tem valor nas mãos de Deus. Gostaria que todos nós repetíssemos hoje: “Senhor, você me compreende. Você é aquele que leva a minha vida a sério. Às vezes brinco com ela, mas Você cuida de mim porque me criou, me leva a sério e me entende”. Deus quer a minha vida como um ato de amor criador.

Terceira pergunta: O que disse Jesus? Ele diz: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te”. Aquele garoto é um jovenzinho como muitos outros. Filho de uma viúva em lágrimas, membro de uma comunidade, parte de um povo. Jesus se encontra com ele numa situação concreta, aproxima-se da sua realidade social e cultural: “Eu te digo”. Depois de ter se aproximado dele a partir de sua realidade social e cultural, familiar e afetiva, Jesus agora fala na sua situação absoluta. “Acorda!”: é um instante de ressurreição que significa: viva! Existe para você uma vida nova! Existe para você uma possibilidade de vida totalmente nova!

As três palavras que Jesus diz nos ajudam a responder àpergunta: “Quem sou eu? Quem é Você?”. Cada um de nós estará hoje na celebração porque é filho, é parte de uma sociedade, de um grupo religioso, cultural e humano. Como tal é objeto do amor de Deus que o chama na sua história. Para compreender quem somos nós, Jesus nos pede que prestemos conta da singularidade da nossa história.

A nossa vida étãoúnica que Deus a quis para si mesmo e não fez que ela dependesse de ninguém. Deus se comprometeu com a minha história pessoal. Talvez nós pensemos pouco nessa verdade, mas ela está na fonte da nossa dignidade pessoal.

É importante conseguir colher na oração, talvez por um só momento, a beleza daquele: “Eu te digo!”. “Senhor, estás dizendo isso para mim?”. “Sim, é para você. Ressuscite, viva a vida de Jesus, viva uma vida nova, expresse a potencialidade da sua vida!”. Quem sou eu? Eu sou aquele que é chamado à vida por Deus.

Fonte: qumran2.net