Artigo: Jesus mora nos limites

23/01/2011 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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A escolha do lugar para morar não é algo fácil. O aspecto econômico obviamente condiciona muito a escolha de uma casa em vez de outra, tanto para alugar quanto para comprar. Mas, podendo ter também uma certa margem de escolha do ponto de vista econômico, a pessoa procura fazer sua escolha também em base a outras exigências pessoais e familiares, como a proximidade com o local de trabalho e as redes de relação de parentela e de amizade que se têm. Nesse ponto, cada um de nós poderia falar da própria experiência. Há quem poderia dizer que se encontra bem onde está morando, porque está a uma razoável distância do local de trabalho, mas que talvez não se encontre tão bem porque as pessoas amigas ou os parentes mais queridos estão distantes, e há quem poderia dizer também o contrário.

O evangelho de hoje, de Mateus 4,12-23, apresenta-nos, entre outras coisas, a escolha que Jesus faz de sua residência, na perspectiva de Mateus.

Jesus escolhe morar em Cafarnaum e ali começa o seu “trabalho” de pregador, e sempre nessa cidade tece as primeiras tramas da sua rede de relações de amizade.

O evangelista nos revela no relato as motivações dessa escolha. Jesus decide morar não no centro da fé religiosa do seu tempo, Jerusalém – que entre outros lugares não seria muito distante da sua cidade natal, Belém. Jesus quis habitar nesse lugar que se encontra nos limites seja da sua terra de Israel, mas também nos limites da sua religião. É um lugar onde parece ser mais forte a treva do que a luz. Não é o lugar do Templo de Jerusalém, que, com a sua grandeza e a sua liturgia solene, é sinal luminoso da religião que se impõe com clareza e força.

Jesus escolhe os confins e se deixa rodear por pescadores e doentes. E nesse lugar Ele não fica apenas por algum tempo, mas fixa sua residência ai, ainda que suas andanças serão contínuas e a direção será aquela de Jerusalém. Em Jerusalém não encontrará casa, mas morrerá fora dos muros da cidade. Jerusalém não é para Ele!

Hoje, Jesus mora ainda nos limites, e ali prega e cura. Jesus escolhe habitar onde pode levar a sua luz, para que o povo que caminha nas trevas possa ver brilhar uma grande luz. É a luz do Reino de Deus que está presente também onde parece existir somente o reino do mal e de tudo aquilo que não é de Deus. Jesus anuncia esse Reino com palavras e com gestos, não escolhendo Jerusalém porque a luz de uma religião muito humana radicada no templo e nos seus representantes era tão forte que uma outra luz sequer seria notada. Bastaria lembrar o episódio dos Magos que encontram em Jerusalém somente discussões estéreis sobre Deus, mas não uma ajuda para o seu caminho de busca ao Menino Jesus.

Nós encontramos Jesus aqui, no território de Zabulon e Neftali, dois nomes que para nós quase nada significa, mas que podem nos fazer lembrar os nossos nomes pessoais e todos os nomes daquelas pessoas que se sentem marginalizadas na vida, inclusive pela religião. Jesus escolhe morar na minha Cafarnaum, no território da minha vida, justamente quando me sinto afastado de tudo e às vezes rodeado pelas trevas.

Jesus mora também lá onde à primeira vista não pareça haver muito de religioso e claro.

Mas, pensando bem, todos vivemos nos limites e ninguém pode ter a pretensão de estar no centro da religião e da compreensão plena de Deus. E é melhor assim, porque justamente nos limites e não no centro é que Jesus decide morar para desenvolver o seu trabalho e começar a sua rede de amizades. Você se sente parte dessa rede?