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Ao chegar ao quinto domingo do tempo comum, a Igreja reflete sobre o evangelho de Marcos 1,29-39.
A televisão brasileira se desenvolveu muito nos últimos anos. Há algum tempo, muitos telespectadores se acostumaram a ver o Big Brother, programa que tem como grande apelo o fato de seguir cada passo de uma pessoa ou de um grupo, na sua vida pessoal ou em situações particulares.
Em geral, as câmeras estão fixadas atrás dos espelhos, em lugares especiais da casa ou os integrantes do reality show são constantemente seguidos por algum câmera que vai pegando detalhes da vida que acontece na casa. Procuram não perder nada das suas emoções e das suas ações.
Como padre, por não ter assistido a nenhum desses programas, não posso dizer que sou especialista no assunto, mas acredito que os organizadores do mesmo tenham como intenção trabalhar com o poder de identificação do telespectador com os protagonistas que são seguidos e espionados pelas telecâmeras.
O evangelista Marcos parece fazer a mesma coisa com Jesus. Segue-o durante um dia e meio fixando-se de maneira precisa em alguns aspectos de suas ações de Jesus, sobre aquilo que diz e faz, mostrando, ao mesmo tempo as reações daqueles que se aproximam dele.
Nos reality shows existem sempre alguns momentos especiais. Pelo que ouço falar do Big Brother Brasil, há momentos em que um dos personagens se torna anjo, há momentos em que a pessoa fica numa espécie de paredão ou, ainda, momentos em que alguém é eliminado. Nesse dia, há um jogo entre os de dentro e os de fora. Muita gente vai se identificando ou sendo levadas a ter reações contrárias a determinados protagonistas.
Marcos, no evangelho de hoje, apresenta um desses especiais de Jesus, não de paredão ou de eliminação, mas de identificação da comunidade dos apóstolos com Jesus.
O show ao vivo de Jesus começa com o relato lido no domingo passado, quando Jesus foi apresentado em dia de sábado na sinagoga ensinando e realizando a libertação de um homem que estava possuído por um espírito impuro.
O relato deste domingo continua com Jesus que entra na casa de Simão e de André. Ali, Jesus cura uma pobre anciã doente, que era incapaz de realizar qualquer coisa por causa da doença, pois estava paralisada.
Jesus a reabilita, fá-la “ressuscitar”, porque quando Marcos diz que Jesus “segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se” usa o mesmo termo da ressurreição, dando-lhe novamente a capacidade de ser útil aos outros.
É preciso prestar atenção no que Jesus faz. Ele realiza uma cura justamente no dia de sábado, dia tão sagrado para os hebreus que eles nada podiam fazer para evitar descumprir qualquer norma da lei.
Nós lemos no evangelho que Jesus muitas vezes é repreendido por causa de sua maneira liberal de guardar o repouso do sábado. Mas também neste trecho, Jesus coloca em primeiro lugar não a lei ritual, mas a lei da caridade. Em outras palavras, Jesus, diante das necessidades da pessoa, é capaz de transgredir até as mais pétreas tradições religiosas.
O dia de Jesus prossegue com a cura de muitas outras pessoas: “todos os doentes e possuídos por demônios”. Trata-se da libertação de muitos de tudo aquilo que afasta os homens da felicidade e da realização pessoal. Na verdade, Jesus livra os corpos e as almas. É uma espécie de pregação com os fatos muito mais do que com as palavras.
E eis que a telecâmera de Marcos segue Jesus também no momento mais íntimo da oração, que acontece na solidão e na intimidade da madrugada. Mas o motivo recorrente desse dia é a busca por Jesus tanto dos discípulos quanto das pessoas: “todos estão te procurando”, dizem os discípulos.
Jesus, então, parte para outros lugares, para operar milagres e anunciar o Reino para o máximo de pessoas possível. Na verdade, parece que Marcos quer mostrar uma coisa muito simples: todos buscam por Jesus e Jesus busca por todos, em um movimento missionário em que não nenhum lugar fica excluído da possibilidade de ser lugar da ação de Jesus.
Esse reality show de Jesus, seguido passo a passo pela fiel telecâmera de Marcos também me questiona. Não posso deixar de ver nas cenas descritas também o dia a dia da minha comunidade cristã e de toda a Igreja.
Os cristãos podem ver nesses movimentos de Jesus, nas suas atenções, na sua atenção quase que “maníaca” pelos sofrimentos humanos, na sua capacidade de colocar em primeiro lugar Deus e o último dos últimos. Os cristãos também podem ver um projeto de vida, uma maneira de ser verdadeiramente fiel ao próprio batismo. Se o batismo nos torna como Jesus, nesse dia de Jesus nós encontramos tudo: nossa vida.
O que precisamos fazer será então substituir o personagem Jesus por nós e pela Igreja, e fazer o mesmo caminho e as ações de Jesus em nossas vidas. Será que nós faríamos diferente? É o mesmo show?
Evento será realizado em sala de aula no bloco A
Inscrições podem ser feitas na internet, basta acessar ucdb.br/possaude