31/01/2010 - 0:00 - UCDB
Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges
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Deus nos fala. Ele é um Deus vivo, o Deus em pessoa, o Deus que estabelece conosco uma relação pessoal. Todo domingo Deus nos fala, e, assim fazendo, não somente nos revela os seus pensamentos, como também se comunica através de sua Palavra. Não existe comunhão eucarística sem a união com Deus mediante a sua Palavra. A Palavra que Deus pronuncia e dirige a cada um de nós, pessoalmente, comunica-nos a vida. A vida vem em primeiro lugar, porque está antes de tudo, antes de todos, porque existia antes de mim: “Antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei” (Jr 1,5). Segundo São Paulo, a Palavra de Deus é a caridade que nos faz existir, nos cria a partir do nada: “se não tivesse caridade, eu não seria nada” (1 Cor 13,2).
A Palavra de Deus é nossa linfa vital: nutre, amadurece, fecunda e consagra. Cada um de nós pode falar, porque respira, mas o nosso respiro vital é a Palavra que Deus nos dirige hoje, de acordo com o evangelho de Lucas 4,21-30, que começa dizendo: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Sem a Palavra de Deus a nossa vida é uma frase sem o verbo, uma vida incompreensível, inútil, incompleta.
Segundo Lucas, após haver superado as tentações no deserto, Jesus, impelido pelo Espírito, retorna à Galileia, para pregar e para dar início à sua missão. Justamente na sinagoga de Nazaré, a sua cidade, depois de haver lido um trecho do livro do Profeta Isaías, apresenta-se oficialmente aos seus conterrâneos como salvador.
Logo em seguida, Lucas fala da brusca mudança de comportamento dos nazarenos. Nada sobra da admiração e do entusiasmo inicial que eles tiveram, provocados pelas palavras de Jesus. Após falar que nenhum profeta é bem recebido em sua terra, a exemplo de Elias e Eliseu, os nazarenos ficaram furiosos que levaram Jesus para fora da cidade, até o alto de um monte, porque, dali, queriam jogá-lo no precipício. Mas o filho do carpinteiro e de Maria, passando no meio deles, continuou o seu caminho.
Faça uma viagem espiritual até Nazaré e pergunte-se: que importância tem a Palavra de Deus hoje, na minha vida? Por acaso, há um momento do meu dia no qual permito a Deus de se dirigir a mim? A palavra “fé”, “esperança”, mas, sobretudo, “caridade”, quando à tarde recordo as minhas ações, foi o resultado das ações e das relações estabelecidas durante o dia?
Se o meu coração se acha bombardeado, é porque está refletindo outras palavras em vez de ressoar a Palavra de Deus. Se não ouço a Palavra de Deus, não sei mais o que sou, onde me encontro, por onde estou andando. Sem a Palavra de Deus, podemos falar uns com os outros, mas, infelizmente, não nos entendemos.
A Palavra que Deus me dirige – se é Ele que realmente me fala – provoca a mudança na minha maneira de pensar e nos meus projetos, muito mais dos que dos meus pensamentos: “põe a roupa e o cinto, levanta-te e comunica-lhes tudo que eu te mandar dizer: não tenhas medo, senão eu te farei tremer na presença deles”, disse Deus ao profeta Jeremias e diz também a cada um de nós.
É a Palavra de Deus que me dá a força para enfrentar as batalhas da minha vida: “eu te transformarei hoje numa cidade fortificada, numa coluna de ferro, num muro de bronze contra todo o mundo, frente aos reis de Judá e seus príncipes, aos sacerdotes e ao povo da terra; eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te”, diz o Senhor.
Portanto, a Palavra que Deus me dirige, hoje, se é viva é eficaz. Reprova ao mesmo tempo em que consola, cura enquanto fere, mata o “mal estar” da minha vida e faz nascer o “bem estar” da caridade. Ela, hoje, me faz levantar. Move o “eu” que estava sentado sobre si mesmo e o põe a caminho sobre a estrada mais sublime, porque o comove, o faz mover-se em direção aos outros: “Suporta tudo, crê tudo, espera tudo, desculpa tudo”, diz São Paulo.
É difícil, no entanto, ser transportados até a cidade de Nazaré para ouvir Jesus, especialmente a sua Palavra e a sua profecia nos incomodam. Ele fala daquilo que estamos cheios: do nosso orgulho, dos nossos preconceitos, do nosso jeito acomodado de ser. Preferimos, então, passar da indiferença em relação a Deus, da surdez e do mutismo em relação à vida, para o confronto aberto. Não queremos que Deus nos fale. Queremos, sim, que sejamos nós a falar. De fato, se tudo parece bem, por que aceitar a mudança ou por que ficar ouvindo alguém que conhecemos falar que tem uma mensagem que pode mudar as nossas vidas?
Deus usa os seus profetas, mas principalmente de seu Filho para se dirigir a nós. Se não somos capazes de vê-los como seus enviados, é porque eles incomodam a ponto de nos revelar as fraquezas humanas que queremos manter escondidas.
E se Deus nos pedisse para sermos nós a sua Palavra, será que nossa boca falaria da sua justiça? Se Deus nos pedisse para criticar o comportamento dos nossos filhos, do nosso vizinho, do nosso companheiro, de um amigo, de um parente – inclusive mais velho do que nós – que nos viu crescer, que de nós espera outra coisa, o que nós faríamos? Se Deus nos pedisse para questionar o dono de uma empresa que nos oferece um desconto só para não pagar o imposto devido, o que nós faríamos? Se Deus nos pedisse para denunciar um abuso contra uma criança o assédio moral na empresa na qual trabalhamos, será que nós teríamos coragem?
Jesus olhou bem nos olhos dos seus conterrâneos de Nazaré. Ele continua a olhar bem nos olhos da nossa consciência; Ele continua nos falando que não adianta fazer estudos bíblicos, fundar grupos de oração ou realizar um serviço na nossa comunidade se não formos capazes de dar um passo decisivo na nossa fé, aceitando ouvir a sua Palavra.
Hoje, Jesus pede muito mais de nós do que pediu aos nazarenos. Ele quer que nós acreditemos que a sua força salvadora já está dentro de nós; Ele quer que acreditemos que todas as promessas de Deus se realizam e se cumprem nele, mas que também dependem de nós para se realizar e cumprir hoje.
Só quem se transporta espiritualmente da cidade dos homens para a cidade de Deus, da sua vida diária para a presença de Deus, pode ir até Nazaré escutar Jesus. E Jesus é a Palavra de Deus encarnada, que torna Deus vivo, presente e atuante no meio de nós. Ele se revela a nós como salvador, amigo e companheiro de caminhada. Jesus continua falando para nós hoje o mesmo que falava para os habitantes de Nazaré: chegou o tempo da esperança, chegou o tempo da caridade. Se quisermos vivê-lo, devemos crescer na nossa fé.
Pe. Pedro Pereira Borges
Pró-Reitor de Pastoral UCDB
Evento será realizado no auditório do bloco M