Artigo: Maneiras de relacionar-se

18/07/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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Lucas 10,38-42 mostra Jesus na sua caminhada para Jerusalém. Enquanto segue seu caminho, Jesus faz uma parada no vilarejo de Betânia para visitar Marta e Maria, provavelmente irmãs de Lázaro. A partir daí, o evangelho propõe uma cena muito familiar e que se repete toda vez que alguém vem nos visitar. Além do mais, o relato do evangelho sublinha os elementos importantes desse episódio: uma casa, Jesus, Marta e Maria. A casa é sinônimo de que Jesus deseja procurar o homem lá onde ele habita e no qual desenrola a sua vida. A casa é sinônimo ainda do ser humano com todos os seus problemas e suas dificuldades, mas também com todas as alegrias que a vida reserva a todos os seus habitantes. Entrar numa casa é sinal de comunhão plena e de partilha total. Mas é também momento no qual se quer entrar em relação, começando por oferecer um pouco do nosso tempo e da nossa experiência de vida. Além disso, a passagem de Jesus manifesta a clara vontade de iluminar com a graça do seu ensinamento a vida daquela casa.

Como na maior parte dos casos, mais uma vez é Jesus quem toma a iniciativa de parar junto de alguém. A visita de Jesus é o sinal concreto de como Lhe interessa tecer relações sérias e concretas com as pessoas, mas não um tipo de relação qualquer. São relações sólidas e significativas.

Na disponibilidade de Jesus é preciso ler um convite a estar sempre prontos para criar um clima de familiaridade que muito frequentemente falta nas nossas comunidades cristãs. No evangelho, deve-se individuar um apelo para dar mais atenção às pessoas que nos foram confiadas do que a tantas iniciativas que não levam a aproximar o homem do próprio irmão.

A entrada de Jesus na casa das duas irmãs provoca dois comportamentos diferentes: escuta e, digamos assim, uma forma de ânsia e frenesi em relação ao hóspede que chegou. Nos tempos antigos, os comportamentos das duas irmãs tiveram uma leitura que dava certa superioridade à vida contemplativa em relação a uma vida dedicada ao serviço. Mas não se trata de falar em contemplação e ação. Trata-se, outrossim, de nos identificar com Jesus.

Maria se torna o modelo concreto do discípulo, mas, sobretudo, daquele que compreendeu que na família de Deus as relações são construídas na escuta da Palavra de Deus e na interiorização. Jesus, no mesmo capítulo 8, havia precisado como da escuta e da observância da Palavra nasce e se constitui a nova comunidade cristã. A escuta da Palavra é a forma de diálogo privilegiado para uma caminhada de fé. Então, na pessoa de Maria, devemos ler o ser humano que, tendo encontrado Jesus, decide fazer uma reviravolta na própria existência, começando um processo de transformação interior e de assimilação progressiva da mensagem evangélica trazida por Jesus. É talvez essa a acolhida que precisa ser feita ao hóspede que entrou em nossa casa: compreender o que veio nos dizer, quais são suas intenções e qual é a novidade que veio nos oferecer.

Marta se torna o modelo da pessoa que se acha dispersa e empenhada nos muitos serviços. Porém, esse fazer tantas coisas produz inquietude e agitação interior, preocupações e obsessão interior. Esse estado de angústia faz perder de vista a pessoa daquele que veio nos visitar. Na verdade, Jesus, na resposta que dá a Marta, diz como a hospitalidade não consiste em “fazer tantas coisas” ou preparar muitos pratos, mas em começar a dedicar um pouco do nosso próprio tempo ao hóspede e em começar a mostrar como está a vida. Deve-se criar aquele espaço que faz crescer a semente que o Hóspede quer semear na vida de cada um.

O comportamento de Marta pode ser um perigo também para as nossas comunidades cristãs, porque levaria à exclusão da escuta da Palavra, fundamental para fazer parte da família de Deus. O serviço é necessário, mas a escuta é indispensável para ser autênticos discípulos de Jesus e anunciadores acreditados e críveis do evangelho.

Devemos nos livrar aos poucos da Marta que existe em nós, e fazer surgir com toda a sua força a Maria que frequentemente escondemos porque é uma presença incômoda, mas que está sempre empenhada procurando o melhor para todos.

Bom domingo!

Foto: http://www.ocaminhodomeio.com.br/linhagemsagrada/imagens/MM-Johannes_Vermeer_-1655.jpg