28/03/2010 - 0:00 - UCDB
Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges
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Este dia é chamado pela liturgia de “Domingo de Ramos” e também de “Domingo da Paixão do Senhor”. Os dois títulos se complementam porque a entrada de Jesus em Jerusalém é o pontapé inicial do drama que se concluirá com a sua crucifixão.
Hoje, queremos refletir, com Lucas 23,1-49, sobre um tema complexo, no qual se encontram tantas realidades: a cruz de Cristo, a nossa cruz e a cruz do mundo. O verdadeiro segredo escondido nos séculos é sobre Deus crucificado. É um Deus que por amor se aniquila em Cristo para salvar a sua criatura, derramando seu próprio sangue. O amor, o verdadeiro amor que não sabe fazer outra coisa que não ajudar, criar, esperar e chega na cruz a dizer ao ladrão que se lembre dele: “hoje, estarás comigo no paraíso”. Esse “hoje” é o “hoje” de Deus, da Igreja, é a novidade absoluta, é o preço do sangue. O ser humano é conquistado agora não mais pelo efeito das palavras, mas com o sangue de Deus.
Toda morte traz consigo o sinal de um mistério absoluto e a experiência de uma absoluta incomunicabilidade. Nada podemos saber daquilo que acontece a uma pessoa que está para morrer. Se é difícil compreender a morte de uma pessoa qualquer, como poderemos compreender a morte de Cristo e o mistério que ela contém; a morte definitiva, como para qualquer pessoa, e da qual somente Deus poderá revelar o mistério?
Certamente, jamais conseguiríamos descobrir essa face de Deus, se não tivesse acontecido a Encarnação, a paixão e a morte de Jesus. Jamais conseguiríamos entender o mistério de Deus se fosse escrito no evangelho que diz a nós pecadores aquele “hoje estarás comigo no Paraíso”. Parece impossível ouvir as palavras da absolvição e do perdão, nós convencidos que aquele ladrão surpreendido pela morte seria também consumido pelas penas eternas da justiça.
O que quer dizer esse Deus escandaloso que no tribunal da vida absolve os deliquentes e julga-os pessoas dignas de amor? É um Deus que não hesitará purificar o sagrado para defender a centralidade do ser humano: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado!” (Mc 2,27). É o ser humano que conta, não a lei. E é para o ser humano que Jesus morreu demonstrando na própria pele tudo o valor do ser humano. Eis a radical novidade da morte de Cristo: o ser humano é colocado no centro do universo de Deus. E, por conta disso, como não nos lembrar das belas parábolas de Jesus sobre a misericórdia e pensar que o verdadeiro segredo que Jesus nos revelou sobre o amor anulou todas as religiões do universo sempre tendentes a defender a moral e a justiça e a provar o sabor de sempre condenar alguém.
Difícil é amor, difícil é perdoar. Se não compreendermos isso, não conseguiremos compreender que o ser humano foi comprado com o preço do sangue divino.
Ainda hoje a paixão de Jesus pode ser representada na história de cada pessoa. É o sentido de morte que confunde as situações nas quais a humanidade é tantas vezes obrigada a agir e a respirar. Talvez nunca como no final do século passado e no início deste a humanidade experimentou a paixão de Cristo transformando-a em “paixão histórica”. As tantas guerras que ainda hoje teimam permanecer entre nós, as diversas injustiças que são afligidas ao povo, os vários egoísmos que determinam o nosso viver no dia a dia, a corrupção em todos os níveis que termina com o enriquecimento pessoal, as traições pessoais, são o sinal evidente de que no coração do ser humano nada mudou desde o dia em que um Nazareno chamado Jesus morreu para apagar aquela culpa que desde sempre martiriza a mente e o coração do ser humano.
A paixão de Jesus nos diz ainda que o ser humano é capaz de crueldade, de vileza, de indiferença, mas não está perdido. Deveremos ser tão gratos ao centurião romano por aquilo que disse diante daquele espetáculo horrendo: “Verdadeiramente, este homem era filho de Deus”. De onde a gente menos espera é que vem uma afirmação tão cheia de verdade. Não nos maravilhamos pelo pecado nem quando o descobrimos dentro de nós nem quando o encontramos ao nosso lado, porque o pecado não é a última palavra – a última palavra é a inocência crucificada –, que não rejeita nem a Verdade nem o Amor e é por isso que o “véu” do mistério se rompe e nós vemos e compreendemos o sacrifício de Cristo.
A paixão nos diz também que o Senhor exteriormente sofreu a paixão, mas a assumiu interiormente e voluntariamente. Nós suportamos, talvez cheguemos a nos resignar, mas não acolhemos com amor, não enfrentamos o mistério da dor. Em toda a nossa fraqueza, nós nos tornamos fortes se nos entregamos com Jesus ao Pai.
Diante da cruz, façamos silêncio, mas com o coração cheio do mundo digamos chorando como Pedro, depois da traição: “Tu és o Amor!”. Se compreendermos isso, saberemos que o relato da paixão é um evangelho para nós, isto é, uma “boa notícia”.
Fonte: www.qumran2.net
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