Artigo: Nas redes de Jesus

22/01/2012 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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No ano passado, os encarregados da Pastoral da Universidade organizaram dois retiros com os acadêmicos. A equipe se esmerou na difícil tarefa de convidar os acadêmicos para o evento.

Fizemos anúncios no site da Universidade, mandamos e-mails para toda a comunidade acadêmica, procuramos envolver todos os professores e coordenadores na tarefa de incentivar a participação dos jovens.

No dia em que o segundo retiro começou, um dos organizadores me falou: “padre, dos 75 inscritos, vieram apenas 40”.

Sua maneira de falar era a de alguém que havia ficado decepcionado com o resultado de todo o trabalho de preparação. Era como se quisesse dizer: “como as pessoas podem responder dessa maneira a algo que nós preparamos com tanto entusiasmo?”.

Também pensei nisso quando estava lendo o trecho do evangelho proposto para este terceiro domingo do tempo comum, tirado de Marcos 1,14-20, que relata como Jesus chamou os primeiros discípulos.

No relato, tudo parece fácil e rapidinho: Jesus passa pela margem do lago, vê os pecadores, chama-os, e eles, deixando tudo, seguem-no imediatamente. Isso acontece duas vezes, uma após a outra.

Talvez fosse mesmo fácil. Talvez um simples “vem” fosse suficiente para fazer as pessoas tomarem a decisão de sair de suas casas e participar dos retiros, dos encontros de jovens e das várias iniciativas da paróquia.

Pela minha cabeça passou também uma outra imagem: a dos vários voluntários nas situações de emergência, durante os desastres naturais.

Muito se fala da generosidade de muitos jovens e também de pessoas de outras idades, que imediatamente põem em ação a sua generosidade, como aconteceu quando houve os deslizamentos no ano passado em Teresópolis e Petrópolis ou na época das grandes enchentes que varreram do mapa algumas cidades de Alagoas e Pernambuco.

Também os jovens que participaram do Projeto Rondon, como parte das atividades da Universidade, voltaram alegres por verem o trabalho que haviam realizado entre as populações pobres do Estado do Rio Grande do Norte.

Pouco foi preciso para que todos colocassem em ação a sua generosidade.

Agora passemos para o outro lado: o lado da Igreja. Parece que existe uma resistência e uma grande dificuldade para juntar os jovens para participar das atividades paroquiais.

Digo “parece”, porque não gostaria de simplificar a coisa. Mas, certamente, não posso deixar de questionar sobre por que isso acontece.

A parte do evangelho que relata por alto o chamado dos primeiros discípulos não pode ser lida em separado dos acontecimentos anteriores. De fato, o evangelista Marcos está apenas relembrando aquilo que Jesus está fazendo: Jesus vai para a Galileia e começa a fazer um anúncio claro e solene: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”.

Olhando assim, nós percebemos que os discípulos não respondem ao chamado de Jesus, abandonando tudo para segui-lo, por um cego senso de dever, mas porque sentem realmente que tudo o que eles têm e estão fazendo vale muito menos do que o que Jesus está propondo e anunciando.

“O tempo já se completou”, diz Jesus. Em outras palavras, Jesus diz que o tempo em que vivemos não é um tempo vazio, como se tudo estivesse sem direção, não é algo sem sentido.

A vida é um tempo precioso nas mãos de Deus. Nós podemos vivê-la de modo pleno porque “o Reino de Deus está próximo”. Jesus anuncia algo que, no fundo, faz parte dos desejos mais profundos do homem e, portanto, também dos pescadores da Galileia.

Pedro, André, Tiago e João deixam as redes que estão em suas mãos para se deixar pegar pela rede de Jesus. A barca sobre a qual estão e que, até então, foi toda a sua vida, torna-se muito pequena em relação à barca que Jesus lhes propõe para dar início a uma aventura que não será fácil, mas que encherá suas vidas de sentido.

Os primeiros discípulos entram assim no dinamismo de Jesus, que não para, mas segue adiante, ao encontro das pessoas, os mais pobres, aqueles que buscam a Deus de coração sincero.

E se depois quiserem pará-lo com a crucifixão, o caminho de Jesus torna-se ainda mais universal e envolvente.

Mesmo que tenha percebido um pouco de decepção nos colaboradores da Pastoral, depois que 35 dos 75 inscritos para o retiro desistiram, falei que o trabalho precisava continuar e que iriamos propor outro retiro neste ano.

Estou convencido de que o entusiasmo e a generosidade do seu trabalho no fim abrirão uma brecha nos corações dos jovens mais desatentos e sem compromisso com a própria vida, da nossa Universidade.

Vivemos numa realidade que, infelizmente, ouve a mensagem cristã não mais como uma novidade envolvente que nos leva a tomar uma decisão. Hoje, a fé, o evangelho e a comunidade cristã se apresentam aos jovens como realidades passadas, e não mais tão significativas para a sua vida. E talvez isso seja por culpa dos cristãos que participam da vida da Igreja, mas que nem sempre mostram entusiasmo na sua maneira de agir e de acreditar.

Mas no coração de cada pessoa e de cada jovem existe também o desejo de um mundo novo, melhor, mais solidário, justo e pacífico. Em outras palavras, em todos existe o desejo do Reino de Deus, o Reino que Jesus anunciou e mostrou para o mundo.

Se, como cristãos, soubermos mostrar que ser Igreja é viver o evangelho e que esta responde às expectativas dos jovens, então talvez mais pessoas se disporão, como os primeiros discípulos, a entrar conosco na rede de Jesus.