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Eu me sinto bem toda vez, como acontece nesta festa de todos os santos, em voltar a este monte junto com os discípulos para ouvir Jesus e suas palavras.
Já as ouvi um montão de vezes e, justamente por isso, quero voltar a ouvir este que, para mim, é como um canto que desce dos ouvidos diretamente ao coração: “Felizes... Felizes... Felizes...”.
Com as nove bem-aventuranças apresentadas por Mateus 5,1-12, Jesus dá início a um longo discurso, registrado por Mateus nos capítulos seguintes, rico de ensinamentos fortes e bonitos, que são o coração do ensinamento de Jesus.
A tradição identificou um longo, real e concreto olhar sobre esse monte, e se alguém vai em peregrinação à Palestina, sempre o visita, como etapa fundamental da busca pelos lugares do Evangelho.
Mas não me importa que seja um lugar físico. O que me interessa é saber que do monte das bem-aventuranças vejo a realidade da minha vida e da vida do mundo de maneira diferente, com o olhar de “alto” de Jesus.
A paisagem é de fato vasta e se perde no infinito, justamente como naqueles dias límpidos depois de uma chuva na montanha, quando consigo perceber até os detalhes mais distantes e as distâncias parecem encurtar-se.
Quantas vezes pensamos a fé como algo que nos limita, que nos impõe regras rígidas, e que nos faz entrar numa corrida na qual existem os melhores, aqueles que serão recompensados e aqueles que serão condenados. Nós concebemos a santidade como ponto de chegada para quem foi bonzinho na vida e obedecia a tudo sem questionar. Os santos, que hoje a Igreja nos convida a celebrar todos juntos, parecem uma fila na qual estão “os primeiros da classe”, amados e recompensados pelos professores e que nos fazem sentir “os últimos”, pois jamais poderemos ser como eles.
Ser santos nos parece apenas ser sinônimo de rigor moral absoluto, conversão total sem volta ou dúvida e certeza absoluta sobre Deus e os ensinamentos da Igreja.
O canto do monte cantado por Jesus nos ensina que a felicidade é antes de tudo dom de Deus e não a nossa meta. É Ele que dá o Reino, é Ele que consola e concede a misericórdia, é Ele que dá os dons da justiça e da paz, é Ele nos chama de filhos.
A nós cabe apenas confiar nisso e não pensar que pobreza, fadiga, dúvida, fracasso... podem nos tirar esse dom. Aliás, a mensagem das bem-aventuranças nos diz que é justamente nas situações humanas mais difíceis que Deus vem em nosso socorro.
Um sacerdote me sugeriu esta leitura muito interessante sobre a santidade: a santidade não é um prêmio final pelo nosso bom comportamento, dado somente aos poucos que a Igreja proclama oficialmente. A santidade é um “incentivo” inicial que é dado a todos. Todos, desde o batismo, recebem a presença e a força de Deus. A todos Deus dá a fé, como Jesus nos ensinou com a sua história, quando chamou os discípulos sem fazer um teste de admissão ou pedir carta de recomendação. Confiou logo neles e eles tiveram depois toda a vida para viver o dom da amizade recebida.
Aqueles que estão nos altares, e dos quais hoje fazemos memória, tiveram a capacidade de perceber isso e entregar-se ao dom da santidade que também eu já recebi. Eles souberam viver bem na sua vida, feita de altos e baixos, de erros e de contínuas conversões do coração, o dom da Graça que vem de Deus, isto é, o seu poderoso amor.
Não quereria nunca descer desse monte da felicidade, porque daqui Deus me parece de fato tão próximo e muito menos ameaçador do que às vezes é pintado por quem não O conhece pessoalmente.
Daqui me ouço longe dos julgamentos e dos preconceitos e a única preocupação que tenho não é “ser melhor” do que quem está ao meu lado, mas a minha preocupação é fazer tudo de tal forma que o poder liberador do “felizes... Felizes...” atinja o coração de todos, a começar por aqueles que estão mais perto de mim.
Imagem:
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