03/04/2011 - 0:00 - UCDB
Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges
Veja as últimas notícias da UCDB para você que está interessado em UCDB
Um pintor, para pintar a sua obra, precisa de uma tela branca, livre de outros desenhos e de outras pinturas. Também quem pinta afrescos precisa de paredes livres e, se isso não é possível, cobre as imagens que ali se encontram com um novo quadro.
O cego do evangelho de hoje, de João 9,1-41, não pede nada. Ele nada espera da vida porque sua vida foi assim desde que nasceu. Ele é justamente como uma tela branca e livre, que parece esperar somente por uma nova camada de tinta. Sua cura na piscina de Siloé é somente o início do quadro que Jesus está para realizar com ele. No final do percurso, tornar-se-á discípulo, e a última pincelada é o “Creio, Senhor!”, que ele pronuncia. É iluminado nos olhos e no coração.
Por outro lado, encontramos homens piedosos e todos os personagens que o cego encontra logo em seguida à cura, inclusive seus pais. Parece que estamos diante daqueles velhos quadros manchados pelo tempo e pela poeira, que vemos pelos altares antigos dos quais às vezes é difícil distinguir o que querem representar. Esses homens piedosos, que interpretam as leis dadas por Moisés e que detêm o poder religioso em Israel, são como quadros sobre os quais não é possível pintar mais nada tanto para quem olha quanto para quem busca neles uma inspiração para a fé.
Há também uma pergunta inicial que não podemos evitar: por que esse cego é assim? Tem um sentido essa situação de dor? É a pergunta que fazemos sempre diante de situações parecidas, especialmente quando estamos envolvidos com o sofrimento.
Jesus não cede à tentação de responder de maneira fácil, culpando o cego ou sua família. Não busca um culpado para acusar. Jesus, que não é cego. Vê dentro dessa situação uma oportunidade. Esse encontro fará ver quem é verdadeiramente esse fulano que parece somente cego e pobre e fará ver também quem são verdadeiramente os homens piedosos que impunham pesados fardos sobre os outros sem terem a coragem de carregá-los e que parecem tão religiosos e abertos a Deus.
Jesus, iluminando os olhos desse cego, pinta um novo discípulo, cria uma nova figura que se move na cena, colocando em realce o escuro, que existe entre ele e as outras figuras.
E, a propósito dos quadros, vem-me à mente justamente Caravaggio, que, nas suas obras, é um mestre quando trabalha com as luzes. Os seus quadros são famosos pelos fortes contrates entre luz e escuro que atingem as figuras, de maneira às vezes verdadeiramente inesperada.
É assim também no caso do cego da piscina de Siloé. A luz está onde nós menos esperamos e os cegos não são verdadeiramente cegos enquanto aqueles que vêem se encontram na escuridão.
E justamente como um quadro fascinante, esse relato do evangelho é para ser contemplado com os olhos da alma.
É um quadro que desconcerta, porque chama a atenção para a dureza e a cegueira dos homens piedosos diante da evidência dos fatos. Será que neles não está pintada também um pouco da minha vida cristã?
E no cego, à medida que o relato vai ficando mais intenso, é possível ver de fato um crescendo de fé e de coragem que foge à nossa capacidade de entendimento. O cego não se torna um troféu do poder que Jesus usa para mostrar que tudo pode. É, na verdade, um discípulo que viveu sempre na escuridão dos olhos e talvez justamente por isso não foi contaminado pela arrogância e pela autossuficiência espiritual de quem estava ao seu redor.
O nosso mundo, que está mergulhado em luzes fortes e imagens que invadem as nossas casas, ainda precisa da luz de Jesus porque estamos de verdade numa escuridão espiritual. Não é uma culpa, mas uma constatação. Nascemos na escuridão e a vida nos faz muitas vezes experimentar essa escuridão na qual não entendemos mais nada e nos tornamos como o cego do evangelho, isto é, mendigos da felicidade.
Mas talvez é justamente isso que nos lança na condição propícia para ser curados e iluminados do alto, por Deus. Os primeiros cristãos, com o batismo, se consideravam “iluminados” não porque se sentissem melhores do que os outros e com uma vida mais tranquila e simples, mas porque sentiam que tinham uma luz interior, que era Cristo, luz verdadeira do mundo.
Reconheçamos, portanto, a nossa cegueira e que não temos capacidade de ter luz própria. Não nos fechemos nas nossas aridezes que correm o risco de nos enganar como os homens piedosos do tempo de Jesus: podemos dizer que acreditamos que estamos vendo e julguemos os outros, mas na realidade estamos na escuridão e recusemos a cura que somente Deus pode nos dar.
Deixemos, portanto, que Jesus venha a ser o grande artista de nossa vida. Que nos tire da escuridão e nos dê a luz intensa da sua vida, em especial na Páscoa que nos espera.
Paróquia Universitária conta com programação especial
Atendimentos gratuitos serão às quintas-feiras, no bloco B da Católica até 8 de maio