Artigo: O contestador das regras

09/01/2011 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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A cena do evangelho de hoje, de Mateus 3,13-17, na qual vemos João Batista que tenta impedir Jesus de se batizar por ele, faz-nos lembrar também a cena do capítulo 13 do evangelho de João, quando Pedro quer impedir Jesus de lavar-lhe os pés.

Na verdade, é muito especial essa espécie tipo de “pudor” dos personagens, que não querem que os papéis sejam invertidos: Jesus, que é o maior, é o Senhor, não pode fazer gestos que subvertam as regras e os comportamentos. Quem está no alto, deve ficar no alto; que é mais poderoso deve mandar e ter mais do que quem tem menos poder e é comandado. No entanto, se invertermos os papéis, encontramos o motivo de esperança que está em baixo: quem é menos poderoso e menos importante aspira tornar-se mais do que realmente é, e assim pode também ele comandar e tornar-se rico.

João Batista não age pressionado por lógicas maldosas, mas está seguramente enquadrado nesse tipo de pensamento, que lhe impede de ver uma lógica no gesto de Jesus em deixar-se batizar como se fosse um pecador comum.

Mas é justamente com esse gesto de “rebaixamento” que Jesus revela a sua verdadeira identidade e a sua missão. Ele veio ao mundo para virar de cabeça para baixo as lógicas humanas e mudar as regras que “prendem” o mundo nas suas estruturas de poder e de servidão.

Se o Filho de Deus se ajoelha e se faz pequeno, se Aquele que não tem pecado se faz tratar como pecador, se o Senhor e Mestre lava os pés dos discípulos como um escravo qualquer, então quer dizer que algo de verdadeiramente novo entrou no mundo.

O evangelho de Mateus relata como justamente no momento no qual Jesus se abaixa mais, a voz do céu, do Pai, se faz ouvir, dizendo: “Este é o meu Filho, aquele a quem amo: n’Ele eu pus toda a minha satisfação!”.

Justamente por esse homem aí, que aparece como um simples pecador sem poder e sem riquezas particulares é o amado por Deus. Deus reconhece a si mesmo no rebaixar-se de Jesus, e diz isso para todos, de maneira solene.

Toda vez que nós invertemos a impiedosa lógica do poder humano, toda vez que nós não nos rendemos ao hábito de afirmar que os pobres devem que continuar pobres e que os ricos devem continuar como tais, toda vez que saímos dos nossos refúgios fáceis e começamos fazer alguma coisa para criar a solidariedade entre os homens, toda vez que o serviço se torna o nosso modo de agir e trabalhar, então Deus nos reconhece como filhos seus e vê em nós o rosto do seu Filho Jesus.

O Batismo que um dia recebemos nos introduziu no mundo transformado de alto a baixo por Jesus. O evangelho está hoje nos pedindo algo diferente. Com João Batista e também com Pedro nós podemos impedir que Jesus revolucione as nossas aspirações, mas também a nós, como a eles. Mas Jesus nos ensina que só assim estaremos verdadeiramente em comunhão com Ele e agiremos segundo a vontade de Deus. Se não aceitarmos esse modo de agir, no fim nos acharemos distantes e privados da sua amizade.

Maria, a mãe de Jesus, no seu cântico de louvor, ainda antes do nascimento de Jesus, parece, de fato, ter entendido o sentido da missão do seu Filho. Na verdade, é justamente ela que diz: “depôs os poderosos dos seus tronos, exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias”.

Bem-vindo ao mundo que Jesus virou de cabeça para baixo. O verdadeiro mundo no qual tudo dá certo e tudo dá certo porque é comandado pela lógica da humildade e do amor.

 

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