Artigo: O Cordeiro de Deus dentro do pecado do mundo

16/01/2011 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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Há uma canção de Francesco de Gregori, um compositor italiano, que pode ser evocada por quem lê o evangelho de hoje, de João 1,29-34. A música repete muitas vezes o título que João Batista reserva a Jesus quando o vê aproximar-se do lugar do batismo. Na canção, o texto associa esse “Cordeiro de Deus” a uma série de figuras da humanidade: prostitutas, traficantes, homens que procuram companhia pelas ruas, jovens miseráveis, policiais que não cumprem com o seu dever, soldados em guerra, presos. Mas chama mesmo a atenção o refrão que se torna quase uma oração: “E dize-me quantas máscaras terias, dá-me os truques que tens, ensina-me a ir onde estarás, aí eu estarei. E dize-me quantas máscaras terei. Se me reconheceres onde estarei, aí estarás”.

A canção de De Gregori não é um tratado de teologia, , mas parece de fato exprimir o sentido da frase que João Batista pronuncia sobre Jesus no evangelho de hoje. Quando diz “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, o Precursor usa uma imagem que relembra o sacrifício desejado de expiação que devia ser oferecido no Templo.

Jesus é aquele que toma sobre si todo o pecado do mundo, tudo aquilo que degrada o homem e o afasta de Deus e do rosto que Deus deu ao homem. Jesus, com o seu sacrifício, aceito voluntariamente e levado a termo na cruz, reconhece a miséria humana e não a julga, mas a salva.

O Todo-Poderoso, Santo, Altíssimo e Perfeitíssimo Deus, desce ao mundo criado por Ele e assume a humanidade, toma a máscara do pobre, do pecador, da prostituta, do doente... e nos faz compreender que por trás das nossas máscaras, que muitas vezes nos tornam piores do que somos, existe ainda o rosto bonito que Deus nos deu.

Quando vamos à missa, num determinado ponto, pouco antes da comunhão, o sacerdote pronuncia justamente as palavras deste evangelho (“Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”), mostrando um frágil e pequeno pedaço de pão. Quando também eu as pronuncio olho não somente a hóstia que tenho entre as mãos, mas espreito também os olhares da assembleia que tenho diante de mim. Vejo diante de mim o pão e as pessoas que participam do mesmo rito. Vejo que também as minhas próprias mãos, que me lembram que também eu, com a minha humanidade, as minhas máscaras e as minhas pequenezes, estão ali, e são parte daquele pão.

Esse é de verdade o Cordeiro de Deus. Ele é Jesus a quem todos somos chamados a reconhecer, ainda que não seja fácil nem imediato.

Também João Batista admite que não foi fácil para ele conhecer e compreender Jesus. Mas assim que compreende que por detrás dos despojos simples do homem Jesus está presente o Filho de Deus, então dá testemunho e faz dele o centro da própria vida, que, para ele, está pronto a perdê-la. Também nós, peçamos para saber reconhecer, seja no pão eucarístico como nas pessoas que vivem ao nosso lado, ainda que frequentemente sejam desumanizadas pelo pecado e pelos limites da nossa condição humana.

O caminho de fé é este: pela vida e na vida reconhecer Jesus, aceitando encontrá-Lo também lá onde menos O esperamos, também na nossa vida que às vezes parece tão distante de Cristo, mas que Ele mesmo aceitou salvar entrando nela.

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