Artigo: O grito do homem e o sopro do Espírito Santo

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A nossa vida é de fato frágil: tão frágil que podemos morrer se nos faltar a respiração. Nem sempre nós damos valor a ela, uma vez que estamos envolvidos pela frenética rotina do dia a dia. Porém, basta que nós sintamos um pouco de falta de ar para descobrir o quanto é precária a nossa existência. É como nós rezamos no salmo de hoje: “Se tirais o seu respiro, elas (as criaturas de Deus) perecem e voltam para o pó de onde vieram” (Sl 103,29).

Isso aconteceu como povo de Israel durante a longa caminhada pelo deserto. Haviam saído do Egito cheios de força, haviam atravessado o Mar Vermelho soltando gritos de alegria. E, no entanto, logo sentiram faltar o ar: o caminho do deserto parecia longo e cansativo, enquanto as promessas do Senhor se tornavam sempre mais um sonho impossível. Foi então que os israelitas gritaram enraivecidos contra Deus e contra Moisés: “Por que nos tirastes do Egito para nos fazer morrer no deserto?” (Nm 21,5).

É exatamente essa pergunta que nos vem à mente quando a desilusão visita a nossa alma e sentimos até falta de ar: “Por que nos tirastes do Egito para nos fazer morrer no deserto?”. Por que só tenho problemas? Por que essas coisas que não esperava que me acontecessem? Por que essa esposa ou esposo, filho, colega de trabalho que só me dão problemas? Por que trabalho, trabalho, e no fim não me resta nada? Por que Deus parece incapaz de manter as promessas que fez desde a criação? “Por que nos tirastes do Egito para nos fazer morrer no deserto?”.

Também Jesus, na cruz, sentiu falta de ar. Sentiu falta de ar por causa da morte que estava se aproximando. Essa falta de ar também tinha um sabor humano muito profundo: “Meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34). No entanto, a de ar de Jesus não era a mesma do cansaço dos israelitas no deserto; também não se parece com o mal estar que sentimos com as desilusões de nossa vida. A falta de ar de Jesus não era uma falta de ar sem memória: Ele sabia quem havia lhe dado a respiração; e, sobretudo, tinha fé – apesar de tudo – naquele que lhe havia dado esse ar: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).

É justamente esse respiro que nos foi dado por Jesus ao morrer na cruz. O evangelista João conclui o relato da paixão dizendo que “Jesus, inclinando a cabeça, expirou” (Jo 19,30). Expirou: isto é, entregou o seu respiro, deu o seu Espírito. É esse espírito que Jesus derrama sobre os seus discípulos, segundo João: “Recebei o Espírito Santo”. Esse Espírito de Jesus tem que ser o mesmo Espírito que cria e que nos faz viver em paz: “A paz esteja convosco” e também nos ajuda a perdoar: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”. Não podemos, portanto, como possuidores do Espírito de Cristo, nos fechar à paz e ao perdão.

Hoje, finalizando o tempo da Páscoa do ano de 2010. O Espírito de Jesus, que é o Espírito Consolador, estásendo dado a cada um de nós. Hoje, Jesus nos dá o seu próprio ar, para que a nossa respiração tenha finalmente uma esperança. E, portanto, renovamos com fé a oração da sequência: “Vem, Espírito Santo, manda do céu um raio da ta tua luz. Vem, consolador perfeito, hóspede doce da alma, doce alívio. Vem, Tu que és repouso no cansaço, consolo que acalma, conforto no pranto. Vem, Espírito Santo!”

Deixe que a torrente da vida de Jesus esteja no seu coração. Dessa forma, daremos glórias às fontes da nossa fé. Quando nós gritarmos, Deus nos enviará o seu Espírito para nos dar força e esperança!

Pe. Pedro Pereira Borges - Pró-Reitor de Pastoral da UCDB

Foto: http://www.paroquia-smbelem.pt/images/pentecostes.jpg