Artigo: O Senhor da vida não evita a morte

10/04/2011 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

Veja as últimas notícias da UCDB para você que está interessado em UCDB

Em seu último filme, Clint Eastwood quis falar da experiência da morte e daquilo que talvez possa existir depois dela. O seu filme se chama Hereafter, que pode ser traduzido literalmente como “Além”, para indicar o que pode existir depois desta vida. O filme apresenta diversos personagens que tiveram que passar por essa experiência duríssima, comum a todos os homens.

A morte aparece no início do filme com a cena devastadora do tsunami ocorrido na Indonésia, que vai engolindo tudo o que encontra pela frente, inclusive uma jornalista francesa que se encontrava numa loja tranquila de uma aldeia da Indonésia, que foi destruída totalmente. A jornalista quase morreu. Em poucos minutos se viu entre a vida e a morte e entreviu “um outro lugar”.

A morte também visitou um inseparável par de gêmeos que viviam uma situação familiar difícil, com a mãe alcoolizada e em contínuo perigo de ser entregues aos serviços sociais. Um dos dois gêmeos morre repentinamente em um acidente e o outro, a partir daquele momento, sai à sua procura, por toda a parte, porque sente que ele está mais próximo do que imagina.

O último personagem, que serve para ligar as duas situações precedentes, é um homem que faz o papel de médium e que se diz capaz de estabelecer contato entre os mortos e os vivos. Esse dom, que poderia lhe render muito dinheiro, é para ele uma maldição da qual tenta fugir.

O filme é marcante porque fala da morte em muitas de suas facetas e busca tratar de uma experiência que nos une a todos. Em todos existe um desejo de vencer a morte, que não somente faz parar as funções vitais, mas, sobretudo, interrompe as relações humanas, tira a esperança em relação ao futuro e condiciona a vida, metendo medo em todos.

O filme foi criticado porque fala de um “além” sem Deus. Deus – qualquer um, não somente aquele cristão – não é lembrado em nenhum momento. Os protagonistas são convidados a esperar por uma “vida que não tem fim” com a morte.

Se pensar bem, e, sobretudo, pensar que às vezes nas quais me defronto com a morte – de um ente querido ou com o meu ministério de padre –, também eu me pergunto se, de fato, a “vida” pode dar a última palavra. Eu me pergunto se é verdade que nem tudo acaba quando a morte chega, de repente ou mesmo quando antecipada por uma longa doença. Talvez eu mesmo, no fundo, não tenho muito interesse por quem estará no comando depois da morte, mas tenho interesse, sim, que possa encontrar a paz para mim e para os que já viveram e que me deixaram.

O longo trecho do evangelho de hoje, de João 11,1-45, traz para nós o tema da ressurreição de Lázaro. O texto fala de um acontecimento final e é a ressurreição de um morto que se torna o último grande sinal de Jesus antes de sua própria morte na cruz.

Creio, porém, que não podemos nos esquecer de que o evangelista João descreve mais detalhadamente a experiência da morte de Lázaro do que a sua saída do sepulcro. Esse trecho do evangelho quer nos questionar, lá no fundo de nossas convicções, sobre a devastação humana que morte provoca nas pessoas e que nem Jesus não quis evitar.

O evangelho fala de Lázaro, que está doente e depois morre. Suas irmãs esperavam por uma cura, se seu amigo Jesus estivesse presente, mas nada disso aconteceu. Até os vizinhos olharão Jesus de trejeito, porque foi capaz de curar os cegos, mas não de curar uma doença, talvez até simples de ser resolvida de um amigo.

Mas, se prestarmos bem a atenção, veremos o texto está construído sob o pano de fundo da condenação de Jesus. Ressuscitando Lázaro, o Mestre apenas assina a sua sentença de morte. O evangelista, na verdade, continua o relato para mostrar como os chefes do povo decidirão matar Jesus, justamente por causa desse milagre.

Estou convencido de que esse trecho do evangelho fala de mim, de nós, de toda a humanidade. Fala da busca de todo ser humano, que acredita ou não, de encontrar um sentido na experiência da morte, que é inevitável. Posso até não acreditar em Deus, mas não posso evitar a experiência da morte.

A mensagem que posso tirar deste relato é que também Jesus, Filho de Deus e Senhor da vida, passou Ele mesmo pelo vale da morte. Compartilhou a experiência da dor da perda de um ente querido e pela experiência da raiva, quando se veem as esperanças interrompidas e que a morte parece sair vitoriosa. Jesus enfrentou também a própria morte e não pôde escapar dela. A cruz nos lembra justamente isso: Deus também fez a experiência daquilo que para muitos homens é sinal de que Deus não existe, e, se existe, é um Deus mau.

Nas duas irmãs de Lázaro, podemos ver nós mesmos em busca de respostas e de esperança concreta. Quando a morte nos toca, não são suficientes respostas fáceis, tiradas do catecismo, que nos dizem que “ressuscitaremos e que um dia nos encontraremos todos em Deus”. Marta e Maria precisam experimentar a vida mais forte do que a morte, precisam sentir que Deus está com elas.

Os personagens do filme de Clint Eastwood no fundo buscam a mesma coisa. HereAfter não se preocupa em dizer que exista “algo” ou que exista esperança “após a morte”. Mas o evangelho nos diz mais: Jesus está conosco quando a morte nos faz tremer e sofrer. O Senhor da vida está presente aqui na minha morte humana, e é capaz de nos fazer experimentar um pouco do “além”, aqui e agora.

Ao ler este trecho do evangelho, lembro-me de uma oração de John Donne (1572-1631), poeta jacobino inglês, que diz: “Depois de um sono breve, nós acordaremos para a eternidade, e a morte não existirá mais. Morte, tu morrerás!”.

Essa experiência que não podemos fazer sozinhos, é-nos oferecida pelo Espírito de Jesus. Ele já a plantou em nosso coração.

 

Foto: http://www.mortalresurrection.com/wp-content/uploads/2009/06/Alessandro_Magnascos_painting_The_Raising_of_Lazarus.jpg

Notícias



14/04/2025 - 11:16 - Pastoral

Missa de Domingo de Ramos dá início a Semana Santa

Paróquia Universitária conta com programação especial


09/04/2025 - 09:05 - UCDB

UCDB PLAY: Católica já iniciou atendimentos de orientação e preenchimento da declaração do imposto de renda

Atendimentos gratuitos serão às quintas-feiras, no bloco B da Católica até 8 de maio