Artigo: Para ser santo é preciso seguir o caminho da vida traçado pelas Bem-Aventuranças

01/11/2009 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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Hoje, os cristãos celebram a festa de todos os santos. Nesta celebração, somos chamados a fazer memória de todos aqueles que nos precederam na fée que, com o esforço de sua vida, procuraram transmiti-la e vivê-la com intensidade. De alguns, a Igreja recorda os seus nomes e faz uma comemoração durante o ano litúrgico. Muitos outros, a maior parte, somente Deus conhece. Na celebração eucarística de hoje, lembramo-nos de todos esses irmãos e irmãs que nos precederam e que estão diante de Deus louvando-o sem fim.

 

A ideia comum entre nós cristãos éque a palavra “santo” seja muito forte para ser aplicada a um ser humano e que santos são apenas aqueles que honramos sobre os altares e que chegaram ao paraíso. Esta ideia está presente no livro do Oseias, quando diz: “Eu sou Deus, não um ser humano, sou o Santo no meio de ti (Israel)” (11,9). Portanto, santo seria somente Deus, enquanto que o ser humano, o ser vivente sobre esta terra, não o é.

 

Tudo isso éverdade, no entanto, somente em parte. No livro do Levítico, Deus afirma: “Eu sou o Senhor vosso Deus. Santificai-vos e sede santos, porque eu sou santo” (11,44). Com essa afirmação, Deus se mostra santo pela sua própria natureza, mas, ao mesmo tempo, afirma que também o ser humano, mesmo tendo uma natureza diferente da dele, pode ser santo.

 

Paulo, o apóstolo das gentes, em várias de suas cartas diz que a santidade épara todos os homens. Na primeira carta aos Coríntios, por exemplo, ele começa assim: “À Igreja de Deus que está em Corinto: aos que foram santificados no Cristo Jesus, chamados a serem santos, junto com todos os que, em qualquer lugar, invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1,2), e, na carta aos Romanos, ele diz que os cristãos são santos por vocação: “A vós todos que estais em Roma, amados de Deus e santos por vocação: graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e de nosso Senhor, Jesus Cristo” (1,7). Portanto, também nós somos santos por causa do batismo que um dia recebemos.

 

Mas como nos tornamos santos? O evangelho escolhido para esta festa, de Mateus 5,1-12a, apresenta as Bem-Aventuranças como caminho para a santidade. Elas não se preocupam em descrever a felicidade àqual todo ser humano deve buscar, mas em apontar os caminhos que conduzem a essa felicidade. Alcançar essa felicidade é a perfeição da santidade.

 

Jesus subiu ao monte e, sentado, falou para os seus discípulos e uma grande multidão que os acompanhava: “Bem-Aventurados os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-Aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-Aventurados os mansos, porque receberão a terra em herança. Bem-Aventurados os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados. Bem-Aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-Aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-Aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-Aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-Aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus”.

 

Nessas palavras de Jesus são apresentadas a ética e a santidade que devem marcar a vida dos discípulos. Eles podem escolher livremente seguir os seus próprios passos sobre um ou outro caminho que se abre à sua frente: “Vê que eu hoje te proponho a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. [...] Cito hoje o céu e a terra como testemunhas contra vós, de que vos propus a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e teus descendentes, amando ao Senhor teu Deus, obedecendo à sua voz e apegando-te a ele — pois ele é tua vida e prolonga os teus dias —, a fim de que habites na terra que o Senhor jurou dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó” (Dt 30,15.19-20).

 

O discípulo escolhe seguir o caminho da vida, o caminho da santidade, isto é, amar o Senhor seu Deus, observar os seus mandamentos, as suas leis, as suas normas: “Se obedeceres aos preceitos do Senhor teu Deus, que hoje te prescrevo, amando ao Senhor teu Deus, seguindo seus caminhos e guardando seus mandamentos, suas leis e seus decretos, viverás e te multiplicarás, e o Senhor teu Deus te abençoará na terra” (Dt 30,16).

As Bem-Aventuranças pronunciadas por Jesus são um caminho de perfeição e de santidade e cada uma delas representa uma etapa indispensável, intimamente ligada àanterior e àposterior. Elas não estão desligadas da realidade, não são inacessíveis, como muitos possam pensar. Elas também não são um texto reservado à especulação espiritual, mas devem fazer parte da ação de cada cristão. Elas procuram encarnar na vida de cada seguidor de Jesus o seu estilo de vida e de ação, até se tornarem normas seguidas por todos os fieis.

 

Bem-Aventurados são aqueles que acolheram na sua vida o convite de Jesus de segui-lo no caminho que leva ao céu. Estes devem se pôr a caminho não tanto por causa de uma ética, mas muito mais pela exigência de um amor profundo e interior. Os bem-aventurados de que fala o Evangelho não podem nunca ficar parados. Estão sempre em marcha. Eles devem ser os primeiros, sempre, a buscar a paz, a alegria, o perdão, e agem onde a lógica do mundo parece que não é possível agir.

 

A lógica das Bem-Aventuranças é difícil porque nos fazem entrar diretamente no pensamento de Deus. Para entender essa lógica, épreciso fazer uma conversão, isto é, uma mudança de mentalidade e de conduta de vida, para entrar em sintonia com o coração de Deus. Elas falam, sim, das limitações humanas, da recusa do sofrimento, mas o cristão se apega justamente na intervenção inesperada do poder de Deus em seu favor.

 

Ouvida junto às tantas mensagens de felicidade que nos são propostas todos os dias pelos meios de comunicação, a palavra de Jesus provoca um choque quando proclama felizes os últimos da terra: os pobres, os famintos, os tristes, os perseguidos. Dizer aos pobres, aos famintos, aos perseguidos que eles são felizes parece irreal, porque a pobreza, a fome e a perseguição são coisas ruins. É como se nós disséssemos a eles que sua infelicidade é felicidade. Se fosse assim, estaríamos diante de uma mistificação. Mas não é isso que Jesus quer dizer com as Bem-Aventuranças. Foi Ele quem primeiro as viveu: Ele foi pobre, manso, misericordioso, puro de coração, operador da paz, justo, sofredor e perseguido. Ele é o protótipo do homem novo descrito nas Bem-Aventuranças.

 

As Bem-Aventuranças constituem a lógica alternativa à lógica do mundo. Elas são a nova lei do Reino e todos os cristãos sãos chamados a praticá-las. Os cristãos, a exemplo de Cristo, são convidados a ter coragem, a lutar por um mundo melhor, a confiar em Deus sem hesitações, porque vivemos em um tempo em que todos nós somos chamados à responsabilidade, ao testemunho.

 

A verdadeira força da fédepende a proximidade com Deus. O tempo das Bem-Aventuranças, na verdade, é o tempo da familiaridade com Deus, o tempo em que nos colocamos lado a lado com Ele, lutando na história pelo advento da justiça e da paz. Somos convidados para uma missão grande e árdua, mas diante das dificuldades e das perseguições, Jesus nos assegura que Ele mesmo venceu o mundo.

 

Talvez alguns cristãos tenham medo de que a felicidade seja apenas um mito, uma distração do mistério da cruz e da eternidade, ao contrário da ascese da penitência, mas a Lei máxima do cristianismo, aquela que conduz os cristãos à santidade, é o Sermão da Montanha, e as Bem-Aventuranças são a sua síntese. Pobres, simples, puros de coração, aflitos e misericordiosos, famintos e com sede de justiça, pacificadores e perseguidos: bem-aventurados, isto é, felizes enquanto livres. A caminho, contrapondo-se à lógica do mundo e rumo à realização de nós mesmos (Omelie: 5,2009).

 

Portanto, o cristão pode ser santo e tem um caminho. Basta seguir a Lei de Cristo, as Bem-Aventuranças! Sejam santos como o Pai do CéuéSanto!

 

 

Pe. Pedro Pereira Borges

Pró-Reitor de Pastoral

 

 

Imagem: http://presentepravoce.files.wordpress.com/2009/08/sermao_da_montanha1.jpg