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Um jovem se aproxima de Jesus, diz que Ele éum bom mestre, e pergunta-lhe o que deve fazer para “ganhar” a vida eterna. Marcos diz que Jesus olhou para o jovem com amor e lhe disse que bastava seguir os mandamentos: “não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, não prejudicarás ninguém, honra teu pai e tua mãe!”. O jovem, ainda de joelhos, disse a Jesus que seguia os mandamentos desde criança. Então, o olhar amoroso de Jesus foi mais longe. Propôs para o jovem o caminho do seguimento: “Só te falta uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”.
Segundo Marcos, o jovem se levantou, mudou o semblante e se foi, porque era muito rico. Jesus passou, então, a falar para os discípulos que é difícil um rico entrar no reino dos céus. Os discípulos perguntam: “então, quem pode se salvar?” Jesus lhes diz que aquilo que para o homem parece impossível é possível para Deus. Quanto aos discípulos que deixaram tudo para segui-lo Jesus lhes garante: “Em verdade vos digo: todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida — casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições —, e no mundo futuro, vida eterna. Muitos, porém, que são primeiros, serão últimos; e muitos que são últimos serão primeiros”.
A juventude é um período especial na vida de cada pessoa. Nela, nós nos preparamos para o futuro e cada momento vivido é decisivo para a nossa vida. Por isso, o jovem está sempre aberto e não se cansa na sua busca. Uns, na sua procura, encontram resposta nas emoções, nas aventuras e nos esportes radicais. Outros realizam a sua busca e encontram resposta nas drogas ou na violência. Há também aqueles que buscam viver a sua vida à base de valores que realmente respondem aos seus anseios.
O evangelho de hoje mostra um jovem na sua busca por aquilo que realmente satisfaz. Infelizmente, ele não encontrou nem em Jesus a sua resposta, porque ainda não estava preparado para dar um passo tão importante na sua vida. A proposta de Jesus nem sempre vem de encontro com as nossas expectativas, porque, muitas vezes, nós não estamos preparados para deixar os nossos princípios, a nossa autossuficiência. Quando nos aproximamos assim de Jesus, às vezes parece que Ele deixa de ser uma resposta para se tornar um problema.
Isso não acontece apenas com os jovens. Acontece até mesmo com os cristãos que vivem dentro da Igreja, como os catequistas, os agentes das nossas diversas pastorais. Nós temos diversas maneiras de seguir Jesus, mas nós fazemos isso porque queremos “ganhar” a vida eterna. Nós queremos “ganhar” já nesta vida cem vezes mais do que ganhamos na nossa conta bancária.
Nãoéessa a conta que devemos aumentar. Nós precisamos descobrir qual a riqueza que realmente conta. Quando entramos na escola de Jesus, até os discípulos ficam espantados. Na verdade, as notícias das comunidades primitivas nos dizem que não eram abastadas como nós podemos à primeira vista pensar. Segundo Lucas, elas até os apóstolos e Jesus precisam da ajuda de pessoas, como as mulheres que os ajudavam com os seus bens (cf. Lc 8,1-2). Os discípulos era pescadores. Alguns deles talvez até tivessem aquilo que nós hoje chamamos de pequenas empresas familiares. Por que, então, os discípulos ficaram com medo de não se salvarem?
Todos nós possuímos naturalmente uma riqueza que é comum a todos, um bem, ao mesmo tempo, preciosíssimo e arriscado. É a nossa própria vida pessoal, a nossa identidade. É esta a maior riqueza que temos, mais preciosa do que qualquer bem material que uma pessoa possa juntar. É esta a riqueza que nós carregamos por toda a vida.
Por isso, a maior busca do ser humano éjustamente ser ele mesmo. Tudo o que nós fazemos na vida é dar forma, a enriquecer aquilo que nós temos dentro de nós mesmos: os nossos desejos, os nossos sonhos e as nossas intuições.
Ser conscientes de nossas responsabilidades e desenvolver a nossa identidade são o melhor investimento que possamos fazer na vida. É nessa luta que nos tornamos ricos em todos os sentidos: religioso, cultural, social e humano. Se fossemos um pouco mais conscientes, talvez deixaríamos de buscar fora de nós o valor que somos nós mesmos, e deixaríamos de lado aqueles inimigos que teimam em nos atacar: a inveja, o ciúme, a falta de transparência no acúmulo das riquezas, a vontade de dominar sobre os outros, o medo e a desconfiança com os quais nos fechamos para não deixar que nos roubem aquilo que, na realidade, ninguém nos pode roubar. Sim, todos nós somos ricos.
E então, por que Jesus faz refletir e chega até a amedrontar aqueles que o seguem? É tão perigoso querer ser a si mesmos?
Se Jesus étão firme nas suas ordens talvez seja porque a nossa maior riqueza, a nossa identidade, o fato de estarmos vivos, sermos originais e irrepetíveis, tudo isso precise encontrar uma razão para se tornar um dom: “Só te falta uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. A proposta de Jesus é que o sigamos, que tenhamos uma relação de discípulos, que deixemos todo o resto para tornar a nossa relação com Ele mais pessoal e envolvente. Em suma, Ele está propondo um caminho para que todas as nossas buscas sejam feitas nele.
Nessa aposta há um risco: não conseguir achar uma direção, uma razão para viver, não ter uma pessoa para partilhar a nossa riqueza existencial. O nosso maior tesouro, que somos nós mesmos, pode se tornar uma prisão se não soubermos fazer dele um dom para os outros.
Foi isso que aconteceu com o jovem que foi ao encontro de Jesus perguntando-lhe como ganhar a vida eterna. Ele se fechou ao dom, quando Jesus lhe propôs um projeto de vida que comportasse uma mudança radical. A resposta de Jesus incomoda aos discípulos e a nós. No entanto, o que realmente vale é que todos podem se salvar, desde que faça da sua vida um dom. Na busca pela salvação nós não podemos nos em nós mesmos. Se não nos abrirmos e nos tornar um dom para o mundo nós perdemos o mais precioso que é a oportunidade se alcançar a vida eterna. E a vida eterna é ter o nosso tudo que é Deus.
Vocêestá procurando o caminho que leva à vida eterna? Continue vivendo a sua vida: pratique os mandamentos, esteja atento às necessidades dos pobres, partilhe a sua riqueza interior com os outros, mas também procure ser você mesmo, construindo a sua vida e buscando a riqueza que leva seus tesouros diretamente para o céu. Assim, todos nós podemos nos salvar, porque tornamos possível aquilo que para o mundo é impossível.
Pe. Pedro Pereira Borges / Pró-Reitor de Pastoral da UCDB
Foto: http://www.mensageirosdoamor.com/wordpress/wp-content/uploads/2009/09/jovem-rico.jpg
Evento ocorre neste sábado, das 8h às 17h, no Parque Jacques da Luz