Artigo: Ricos Pobres e Pobres Ricos

26/09/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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Quando ouço a parábola que Lucas 16,19-31 conta sobre o destino de Lázaro e do rico, sempre me vem uma pergunta: por que o rico, ao morrer, vai para meio dos tormentos e o pobre Lázaro vai diretamente para o seio de Abraão? Só pelo fato de que o rico é rico e Lázaro é pobre? Não sabemos nada da vida dos dois, a não ser a sua situação econômica. Não sabemos se Lázaro era bom e se o rico era mau. É a conta no banco que decide sobre a vida eterna?

Como sempre, Jesus não tem interesse em dizer como é a vida depois da morte, mas com suas parábolas quer nos ensinar como devemos viver bem aqui, enquanto estamos vivos.

Para Jesus, a riqueza é um grande perigo. Ele diz isso aos discípulos da Palestina antiga, mas parece que está antecipando o que acontece hoje. Por isso, suas palavras são terrivelmente verdadeiras e atuais. O rico, que faz festas todos os dias e se veste com roupas finas elegantes, fica cego com seu bem-estar a tal ponto que não vê o pobre Lázaro que “estava no chão”, na porta de sua casa. Lázaro “queria apenas matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico”.

Lázaro não é um pobre qualquer, mas está ali, perto do rico que, inacreditavelmente, o ignora.

Mas quem é este rico? Como se chama?

O rico tem a sua identidade ligada às coisas que possui, mas, para nós, ele chega, de acordo com a parábola, pobre em sua identidade. Quem é? É aquele que se veste com roupas finas e elegantes. É aquele que faz festas todos os dias. É aquele que possui uma Ferrari e tem casa na praia. É aquele que ganhou muito dinheiro com seus investimentos. É aquele que tem..., mas não sabemos afinal qual é o seu nome. Ninguém sabe que tipo de gente ele seria se não tivesse tantas coisas.

O pobre, ao contrário, se chama Lázaro e não tem nada mais do que seu nome. E não consegue sair da sua extrema pobreza. Somente os cães parecem dar-lhe um pouco de atenção, lambendo-lhe as feridas.

Mas o rico é, de fato, rico? É pobre de nome e sobrenome, e não tem sequer a capacidade de amar e de ser amado por Lázaro. A chama que o torturará no inferno, depois de morto, começa ali, na sua pobreza de amor, na cegueira provocada pelos bens que o sustentam. Lázaro, ao contrário, não tem nada, a não ser a si mesmo. Ele “só” tem Deus.

Jesus nos tortura de verdade nos evangelhos destes domingos com contínuos ensinamentos sobre a pobreza e sobre o uso das riquezas. Pergunta: somos nós que possuímos as riquezas ou são as riquezas que nos possuem, tornando-nos tão dependentes e cegos a ponto de ignorar os outros e ficar vidrados nelas?

E até onde chegam o nosso olhar e a atenção que damos às pessoas? Às vezes, não vemos as feridas do nosso irmão que está em casa porque as coisas que temos e as preocupações que acompanham as riquezas nos servem de para choque...

E mais uma vez volta o apelo de nos tornar um pouco pobres e simples. Sobre a vida eterna, não sabemos como e onde será, mas desde agora podemos nos preparar para ela, partilhando olhares, sentimentos, e também os bens entre nós e aqueles que, pobres, vivem ao nosso lado, mais perto de nós do que pensamos.

Não deixemos que sejam os cães a lamber as feridas de tantos Lázaros que estão perto de nós, mas sejamos nós a cuidar de suas feridas!