Artigo: Todos nós queremos ser felizes

30/01/2011 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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A maioria dos sistemas filosóficos da antiguidade eram “eudemônicos”. Havia muitas e diferentes escolas de pensamento com diferentes programas. Porém, essas diferenças diziam respeito aos diversos modos de alcançar o fim comum do ser humano: a “eudemonia”, ou seja, todas coincidiam na busca da felicidade. Os estóicos falavam de “ataraxia”, isto é, serenidade ou quietude da alma diante dos revezes da vida; os epicuristas a buscavam em um prazer equilibrado; outros, no exercício da razão ou no viver “segundo a natureza”.

Contudo, não eram somente os filósofos que se preocupavam com esses temas. Todas as religiões da humanidade procuraram dar uma resposta a essa profunda interrogação do ser humano e tiveram a pretensão, por caminhos diferentes, de tornar o homem feliz nesta vida e assegurar-lhe a felicidade e a paz depois dela.

Santo Tomás de Aquino, o mais elevado expoente e conciliador da filosofia aristotélica e da teologia católica, não podia deixar de lado este tema fundamental. Ao começar seu tratado sobre a moral, na Suma Teológica, aborda em primeiro lugar a questão do fim último. Para ele, todo homem busca, em sua vida, um fim último; e este, no fim das contas, é a felicidade, a “bem-aventurança”.

Porém, o homem somente conquista a felicidade quando alcança a satisfação de sua plena natureza espiritual no exercício máximo de suas faculdades superiores. Em suma, é feliz quando possui Deus de maneira total e para sempre, como o único Ser capaz de dar sentido a todas as aspirações de seu coração, o único objeto digno de sua inteligência e de sua vontade.

O homem, portanto, foi criado por Deus para ser feliz, nesta vida e na outra. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “somente n’Ele encontrará a verdade e a felicidade que não se cansa de buscar” (nº 27).

Jesus conhecia perfeitamente o coração do homem, seus anseios e seus desejos de eternidade e era impossível que omitisse falar dessa realidade tão fortemente arraigada no fundo do seu ser. Segundo o evangelho de hoje, de Mateus 5,1-12a, Ele nos deu a chave para que alcancemos a felicidade.

Todavia, diferentemente dos filósofos, dos políticos, dos sociólogos e de tantos outros personagens que se auto-intitulam “pensadores” ou que querem se passar por “benfeitores da humanidade” – e que tantas vezes têm uma visão bastante míope e quadrada das coisas – Jesus nos apontou um caminho seguro, ainda que duro, para alcançar a felicidade: o Sermão da Montanha. Abre seu discurso com as “Bem-Aventuranças”, a solene proclamação do projeto de felicidade que Ele nos trazia.

O Papa Paulo VI dizia que, “quem não escutou as bem-aventuranças, não conhece o Evangelho; e quem não meditou sobre elas, não conhece Cristo”. Palavras fortes, porém totalmente corretas. O Sermão da Montanha é como que “a Carta Magna do Reino”, o núcleo mais essencial da mensagem de Jesus.

“Bem-Aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus”. Jesus proclama ditosos os pobres, os mansos, os que choram, os que sofrem, os pacíficos e os misericordiosos, os puros de coração, os que têm fome e sede de justiça e, enfim, os que sofrem perseguição por Sua causa. É um programa desconcertante e radicalmente oposto ao que nossos políticos nos oferecem no dia a dia, desejosos de aplausos e amantes do afago e da aprovação popular.

Nós nos acostumamos a pensar – forçados pela publicidade e obedecendo às próprias tendências e instintos de nossa natureza pecadora – que a felicidade se encontra no prazer, no poder, na riqueza, nos luxos e nas vaidades, na honra ou na concessão de nosso corpo a todos os prazeres possíveis. Os epicuristas ficavam absortos por isso. Como fruto de seus ensinamentos, nós chegamos hoje a um hedonismo elevado e sem fronteiras.

Todavia, Jesus nos garante que a verdadeira alegria será encontrada na pobreza, na humildade, na bondade, na pureza de coração e na paciência diante do sofrimento. Jesus parece que gosta de ir na contramão da mentalidade do mundo. Por isso, poucos O entendem, poucos O aceitam e poucos O seguem. Porém, é isso que traz a verdadeira paz ao coração e é isso que transforma o mundo.

São ditosos não os que nada têm, mas o que não têm seu coração apegado a nada, a nenhum bem nesta terra. Por isso, gozam de uma total liberdade interior e podem se abrir sem barreiras a Deus e às necessidades do próximo. Os mansos são os homens e as mulheres cheios de bondade, de paciência e de doçura, que sabem perdoar, compreender e ajudar a todos sem exceção. Por isso podem possuir a terra.

Quem é dono de si mesmo é capaz de conquistar mais facilmente o coração dos outros para levá-los a Deus. Esse vive feliz e em paz. Em seu coração não há espaço para a amargura.

Justamente por isso, porque vive em paz, pode partilhar a paz ao seu redor. É como São Francisco de Assis que pôde conversar, sem armas na mão, com o “terrível” sultão dos sarracenos, que fazia guerra aos cristãos. Os pacíficos são também pacificadores, porque são misericordiosos e retos de coração.

E os que aceitam de bom grado a perseguição por amor a Jesus e ao seu Reino são pessoas que vivem em outra dimensão, que já têm a alma no céu. E ninguém é capaz de tirar-lhes jamais essa felicidade que já vivem antecipadamente. Entraram já na eternidade sem partir deste mundo. Nada nem ninguém pode perturbar sua paz. É assim que vivem os santos!

Estas bem-aventuranças são o fiel reflexo da alma do nosso Salvador. São como que o retrato nítido de sua Pessoa: “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis descanso para vossas almas” (Mt 11, 29). Ele vivia o que dizia. Por isso pregava com tanta autoridade e atraía poderosamente as multidões para perto de Si.

A mensagem de Jesus na Montanha continua igualmente atual. Ele precisa apenas de almas nobres, valentes e generosas que queiram ser autenticamente felizes e que queiram realizar a sua mensagem! São os bem-aventurados dos nossos dias que ajudarão a transformar o mundo.

 

Imagem: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/96/Bloch-SermonOnTheMount.jpg

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