Artigo: Todos verão a salvação de Deus

06/12/2009 - 0:00 - UCDB

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Hoje, celebramos o segundo domingo do Advento. Neste tempo de espera em que os cristãos se voltam para a vinda histórica de Jesus em Belém, para a sua presença hoje na Igreja, através da Palavra, da Eucaristia e dos irmãos, nós também nos preparamos para o encontro definitivo com Ele em nossas vidas.

A figura central de toda celebração da Igreja se volta, então, para Jesus. No entanto, ao redor de Jesus há outros personagens importantes na vida de Israel e da própria Igreja, ligados ao próprio Senhor, que não podem ser esquecidos. Dentre esses personagens, podemos citar a pessoa de João Batista, filho do sacerdote Zacarias e da prima de Maria, Isabel.

João Batista, assim que tomou consciência de sua missão, não ficou na cidade, como qualquer jovem o faria. Ele partiu para o deserto e depois se fixou perto do Rio Jordão. Quando o viam, as pessoas podiam até ficar espantadas, porque ele tinha um modo fora do comum de se vestir e se alimentar. As lembranças da cidade que lhe eram trazidas deixavam-no profundamente chocado. Por exemplo, Herodes tomou por esposa uma mulher chamada Herodíades, sua própria cunhada. João não ficou quieto e condenou a atitude do rei.

Mas, no advento, não nos lembramos de João Batista por causa de suas investidas contra Herodes. Nós nos lembramos dele por causa da sua missão em relação a Jesus. Após um longo tempo de silêncio, Deus voltou a se manifestar através de sua pessoa, para convidar seu povo a se preparar para o nascimento do Messias.

O evangelho deste 2º domingo do Advento é tirado de Lucas 3,1-6. Lucas começa falando a situação histórica na qual surgiu o precursor de Jesus: “No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes administrava a Galileia, seu irmão Filipe, as regiões da Itureia e Traconítide, e Lisânias a Abilene; quando Anás e Caifás eram sumos sacerdotes, foi então que a palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias, no deserto”.

Logo em seguida fala do ministério de João Batista: “E ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados, como está escrito no Livro das palavras do profeta Isaías: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados. E todas as pessoas verão a salvação de Deus’”.

Lucas remonta a situação histórica na qual viveu João Batista para não deixar dúvidas aos seus leitores de que estava inventando uma fábula. Ao contrário, ele estava querendo mostrar o nascimento de João e de Jesus são fatos realmente acontecidos, dignos de fé. Para tanto, ele define as datas e os nomes históricos de pessoas que comandavam a região de Israel por volta dos anos 28 ou 29 depois de Cristo. Esses personagens históricos serão também decisivos por ocasião da condenação de Jesus, principalmente os sumos sacerdotes Anás e Caifás, e os governantes Pôncio Pilatos e Herodes.

Em seguida, Lucas fala de João Batista que aparece pregando um batismo de conversão, ao modo dos antigos profetas. Sua pregação visa uma preparação para a vinda do Senhor. Mediante a conversão e o perdão dos pecados, a vida dos habitantes de Israel se tornará regular — as imagens usadas para exprimir isso são singelas: Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados — de tal forma que algo novo possa acontecer na vida do povo: todas as pessoas verão a salvação de Deus.

Isso mostra o essencial do evangelho de hoje: Deus tem um projeto de salvação para a humanidade. Todos são convidados a participar dele. A única exigência que Deus faz é que o ser humano se abra ao seu projeto, mudando a própria vida, arrependendo-se dos seus pecados e deixando espaço para que ele possa agir.

Embora Lucas fale de João Batista, o centro de tudo é Deus e seu projeto de salvação. Ao falar isso, Lucas coloca Jesus como o centro do projeto de Deus. Jesus, o Deus que salva, virá governar o seu povo, como dizia o profeta Ezequiel: “Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas; e livrá-las-ei de todos os lugares por onde andam espalhadas, no dia nublado e de escuridão. E suscitarei sobre elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor” (Ez 34,12.23).

Deste evangelho ficam algumas lições para nós hoje. Em primeiro lugar, Deus entra na história da humanidade e faz dela história da Salvação. João prepara o caminho convidando à conversão. Esses são os montes a abaixar e os caminhos a abrir. Devemos ouvir os profetas do deserto.

Em segundo lugar, na vinda de Jesus, Deus nos revela a bondade de todas as coisas que criou. Ao mesmo tempo, pela salvação que chega até nós através de Jesus, Ele leva à plenitude sua obra, comunicando-nos sua vida. Por isso, a justiça de Deus se manifesta como misericórdia, convocando-nos para uma vida nova, que brota da vivência do amor.

Em terceiro lugar, o Evangelho quer anunciar fatos, não apenas doutrinas, e menos ainda lendas e mitos, de que ninguém pergunta quando aconteceram. Fala de pessoas que viveram em determinado tempo, e apontam referências que podem ser datadas.

Hoje somos os elos de uma longa série de pessoas que fielmente foram passando adiante o que tinham ouvido antes, até chegar aos homens e mulheres que, não apenas ouviram, mas viram o que aconteceu nos dias de João e de Jesus, ouviram suas palavras e tiveram sua vida transformada por eles.

Nossa certeza baseia-se na fé, nasce de nossa união pessoal com Cristo. Mas não é credulidade, nem se opõe às prudentes exigências da razão humana. Ao festejar o nascimento de Jesus, festejamos uma realidade: Deus veio morar entre nós.

Celebremos, então, em Jesus, nossa esperança de salvação!

 

Pe. Pedro Pereira Borges

Pró-Reitor de Pastoral da UCDB