Artigo: Tudo desmorona, mas Deus não!

14/11/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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Tu me lembro da sensação de angústia que tive no dia 11 de setembro de 2001 e também nos dias seguintes, depois do chocante ataque terrorista aos Estados Unidos, vendo as Torres Gêmeas queimar e depois desmoronar.

Era de fato impressionante para mim – e não somente para mim, é claro – ver edifícios enormes, feitos de aço, com mais de cem andares, reduzirem-se a um monte de lixo em poucos segundos. As Torres Gêmeas haviam sido construídas para durar séculos e todos os dias milhares de pessoas, entre os que trabalhavam ai, iam visitá-la, para apreciar, lá do teto, o panorama de uma das cidades mais poderosas do mundo, Nova Iorque.

A queda das torres marcou de fato uma geração. Acredito que reforçou em mim aquela sensação de fragilidade e insegurança que sempre, como homens dos dias de hoje, temos dentro de nós. Se até edifícios tão sólidos e bem projetados em uma cidade de um país tão militarmente seguro e forte podem cair como um castelo de areia, então essa sensação de insegurança aumenta.

Quando Jesus, no evangelho de hoje, de Lucas 21,5-19, profetiza sobre a destruição do enorme e esplendoroso Templo de Jerusalém, certamente poucos acreditam nele, mas justamente enquanto cresce a admiração pela beleza do símbolo religioso, Jesus decreta o seu fim. O Templo de Jerusalém era, para os hebreus de então, sinal da presença de Deus, o lugar a partir do qual Deus protegia o povo de Israel. Não podia desaparecer!

Mas a profecia de Jesus não diz respeito somente ao Templo. Fala também de outras destruições e de uma crescente insegurança e de transtornos terrenos e cósmicos. Não somente o Templo e as nações são interditados, mas também aquelas que parecem ser as “construções” mais sólidas que são a família e a amizade: “sereis traídos até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos!”.

Tudo parece tão precário e sem eternidade. Acredito que neste sentido as palavras de Jesus se aproximam verdadeiramente do nosso profundo estado de ânimo no mundo em que vivemos, um mundo que parece doente e em contínuo perigo de perder o bem que procura conquistar, aquela paz e aquela convivência serena à qual todos nós aspiramos.

Também aquilo que está acontecendo na Igreja, neste tempo, me faz lembrar as palavras do evangelho. Nem sempre o que ela prega, em nome de Jesus, é seguido pelos fiéis. Muitos cristãos estão frios em sua fé e muitos até se afastam.

Se formos a alguns países sem a liberdade religiosa que gozamos no Brasil, veríamos os cristãos sendo perseguidos. Existem países nos quais ser cristão e ir à missa é de fato um risco e um perigo para a vida. Quem não ouviu falar que alguns grupos terroristas declararam guerra aos católicos do Iraque?

“Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé”. Essa é a resposta de Jesus diante das profecias da destruição do Templo, das perseguições e das traições até da própria família e dos amigos.

O cristão não vive em outro planeta, na paz e na tranquilidade da vida. O cristão não é um aluno que foge diante da insegurança do mundo. Não vivemos em um mundo sadio, sem problemas. Todos os dias experimentamos a insegurança que vem até das nossas próprias escolhas e capacidades.

Mas é justamente essa a hora que Jesus chama de “ocasião para testemunhar a fé”. Não somos nós que comandamos o mundo. Não é por nossa causa que o Evangelho vence. Não somos nós que vamos “prender” Deus nos templos das nossas organizações e planos pastorais. Tudo está destinado a ter um fim, mas Deus não. Isso nós somos chamados a mostrar com nossa vida.

A Igreja, tal qual a conhecemos, com as suas igrejas, catedrais, organizações e estruturas, é marcada pelo limite humano e, além de estar cheia de fraquezas, vive insegura. Porém, isso não nos deve amedrontar. Ao contrário, deve nos fazer colocar de novo o foco da nossa esperança em Deus e no evangelho de Jesus. Eles são eternos e não nós.

As primeiras comunidades cristãs – para as quais Lucas escreve o seu evangelho – eram marcadas por uma insegurança contínua, e as perseguições, até dentro das famílias, eram constantes. A elas evangelista lembra as palavras cheias de esperança de Jesus: “vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”. Essa palavra de Jesus é também para nós, para que não sejamos levados pelo pessimismo e pela autodefesa diante deste mundo que muda e que nos questiona.

É neste mundo cheio de contradições e inseguro que teremos a oportunidade para testemunhar. No fundo, faremos aquilo que o próprio Jesus já fez. Desceu à terra como homem, deixou que o templo do seu corpo fosse destruído e sepultado. A cruz, símbolo da morte e do mal que vence, tornou-se, com a ressurreição, a ocasião para testemunhar a força de Deus.