Artigo: Uma sugestão revolucionária

29/08/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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Talvez poucos viram a notícia, no dia 19 de junho deste ano, do casamento da princesa Victoria, da Suécia. Não faltou ninguém. Entre os 1,2 mil convidados, estavam os membros da realeza europeia, familiares e amigos do casal, além de autoridades e representantes do mundo empresarial e da cultura da Suécia. A cerimônia durou uma hora e foi celebrada na catedral de São Nicolau, de Estocolmo.

Certamente, a elaboração da lista dos convidados foi preparada com muito cuidado, porque o casamento também provocou um surto de sentimentos antimonárquicos no país, embora a princesa seja talvez o mais popular entre os membros da família real sueca.

No evangelho de XXII Domingo do Tempo Comum, de Lucas 14,1.7-14, Jesus nos ensina como fazer um convite ou quem devemos convidar quando queremos dar um almoço ou um jantar. Suas orientações são claras: “Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.

Se a princesa Victoria tivesse que fazer a sua lista de convidados, segundo o evangelho, deveria convidar para seu matrimônio os pobres, os aleijados e os cegos. Por quê? Porque eles não têm como recompensá-la! Agora, imaginem as manchetes dos jornais: “Princesa convida para o seu matrimônio não reis, rainhas, príncipes, princesas, chefes de Estado, mas pobretões!”.

Mas coisas como essas acontecem somente em contos de fábula. Porém, se acontecer um dia, provocará reações deveras interessantes em nós. Talvez, daria muito que falar. No ano 2000, o papa João Paulo II convidou um mendigo para participar da Missa de Natal na Basílica de São Pedro, em meio a sete mil convidados entre personalidades, autoridades políticas internacionais, diplomatas e religiosos. Com ele, participou também da missa uma centena de pobres. Quem assistiu à cerimônia, viu que eles presentearam o Papa com cantos, danças e sorrisos.

A sugestão de Jesus é uma sugestão decididamente revolucionária. Trata-se de abrir as portas, espaço, de modo particular, para aquelas pessoas que normalmente são excluídas. Privilegiar os pequenos, dar preferência aos últimos, garantir a presença dos “sem-direito”, é um dar, um acolher a fundo perdido.

Jesus parece se achar fora de lugar no banquete oferecido pelo fariseu. Falta-lhe a companhia dos seus amigos de sempre, os pobres. Em meio àquela gente que exibe ares de importância, o Mestre parece estar em uma terra estranha, sozinho. É como se Ele quisesse nos dizer: se quisermos ter Jesus como hóspede de nossa casa, não devemos elaborar a lista dos convidados segundo os critérios da convenção mundana. Acontece que Jesus quer estar na “boa companhia” daqueles que o mundo considera como “má companhia”. É somente abrindo as portas aos marginalizados, àqueles que não nos permitem tirar vantagem que estaremos seguros de que Jesus se sentará à nossa mesa. Caso contrário, Ele irá para outro lugar e sua cadeira ficará vazia.

Entendamo-nos: não se trata de organizar, vez ou outra, uma festa beneficente, um almoço para os pobres, mas de uma mudança de mentalidade, de orientações radicais nas nossas relações com o próximo.

Jesus, no evangelho de hoje, oferece-nos conselhos sábios. Era sábado, havia muitos hóspedes, cada um procurava o seu lugar, próximo ao dono da casa ou das pessoas mais importantes. Certamente, Jesus olhava com um sorriso aquelas pessoas adultas que estavam se comportando como crianças cheias de ambição. Como percebeu que seria mal visto se dissesse abertamente o que estava sentindo, Ele preferiu usar de uma parábola para mostrar que o comportamento daquela gente não era muito agradável: “Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: ‘Dá o lugar a ele’. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar”.

A intenção de Jesus não dar uma lição de etiqueta, mas de apontar o comportamento que devemos ter diante de Deus e dos outros. Jesus quer nos dizer: “veja sempre o outro como mais importante do que você. Seja humilde!”. Se o outro, quem quer que seja, é mais importante, então se inverte a perspectiva das nossas relações, e aquilo que é mais importante é deixado para o outro.

A lição é clara: não procure o primeiro lugar, mas o último, “porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado”. Somente se o homem se reconhece fraco e pequeno diante de Deus, torna-se-lhe possível a verdadeira conversão, aquela que o faz entrar no Reino – tantas vezes comparado a um banquete.

Pe. Pedro Pereira Borges/ Pró-Reitor de Pastoral da UCDB

Foto: http://3.bp.blogspot.com/_GfrwXaexjkg/S9CfQglSt6I/AAAAAAAAAMU/fIrZZ0khmqo/s1600/morador+de+rua+I.bmp