Artigo: Viva a curiosidade!

31/10/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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O evangelho de domingo passado colocava em confronto um fariseu, que se passava por um homem irrepreensível, e um cobrador de impostos, um israelita que trabalhava para o Império Romano, que, ao contrário, reconhecia ser pecador.

No evangelho de hoje, de Lucas 19,1-10, mais uma vez devemos falar de um cobrador de impostos. Um dia, Jesus chega Jericó, precedido pela fama de mestre e de fazedor de milagre. Assim, enquanto percorria as ruas da cidade, encontrou-se rodeado por uma multidão. Talvez aquela gente estivesse interessada nos seus discursos, talvez simplesmente curiosa ou talvez querendo vê-Lo realizar algum milagre. Também “um homem, de nome Zaqueu, chefe dos cobradores de impostos e rico, procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia por causa da multidão, porque era de muito baixa estatura. Então, ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali”.

Há algo engraçado nesse homem poderoso, evitado por todos e odiado como opressor do seu povo, que fez algo ridículo, pôs-se a correr, com suas pernas curtas, e depois subiu numa árvore. Também Jesus pôs em risco, ainda que por outros motivos, a sua credibilidade, quando, ao chegar de baixo da árvore, “olhou para cima e disse: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”.

Os que acompanhavam Jesus ficaram escandalizados. Nenhum deles jamais iria se hospedar na casa de um pecador público. Como podia fazê-lo quem, na verdade, se passava por mestre da fé? Mas o Mestre olhava além e, na verdade, honrado pela condescendência que o tirava do ostracismo social e religioso, Zaqueu fez o que ninguém esperava: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. É iluminadora a resposta de Jesus: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

Às vezes basta pouco para mudar uma vida errada. Se em vez do desprezo se olha a quem está “longe” com respeito, se se lhe dá atenção e amor, podem-se alcançar resultados surpreendentes. Ninguém pode ser considerado totalmente perdido. Mesmo que alguém esteja à beira do abismo ainda há a possibilidade de sair de lá. Ainda que lhe faltem a inteligência e a vontade, não lhe faltará jamais a mão de Deus.

A mudança leva Zaqueu a fazer um programa de vida, no qual à justiça (devolver o que roubou) se associa à caridade (beneficiar os pobres). São esforços cuja validade atravessa os tempos, e ainda hoje encontra também amplas maneiras de ser aplicados. Os jornais estão cheios de casos de injustiça, que raramente encontram um remédio apropriado. Nessa arte, os países ricos não são diferentes dos países pobres. Basta ver o último levantamento mundial da percepção da corrupção que colocava o Brasil em 69º lugar, ao lado de Cuba e Romênia, num ranking que é encabeçado pela Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura. A injustiça social, no entanto, não pode sepultar os pecados da consciência individual.

Enfim, no episódio do evangelho de hoje pode-se ver um aspecto de valia não somente religiosa: um elogio implícito à curiosidade. Quando não se vai por caminhos tortuosos ou fúteis, a curiosidade é uma mola poderosa e benéfica: favorece o progresso científico, estimula encontros e relações, enriquece com a contemplação das maravilhas naturais ou realizadas pelo homem. Quando, depois, se volta para as manifestações de Deus, o homem que caminha com suas pernas curtas, é capaz de subir a montanha mais alta para descobrir o verdadeiro resultado a que a curiosidade pode levar.

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges/ Pró-Reitor de Pastoral da UCDB

Foto: http://www.hem-of-his-garment-bible-study.org/images/Zacchaeus.jpg