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O evangelho deste terceiro domingo da Páscoa, tirado de Lucas 24,13-35, fala dos discípulos de Emaús.
Nesses dois discípulos que percorrem a estrada entre Jerusalém e Emaús e dos quais somente sabemos o nome de um, Cléofas – será que Lucas deliberadamente deixou o outro sem nome para que o ouvinte desta história coloque o próprio nome nela? –, podemos ver o caminho do cristão de todos os tempos, inclusive o nosso, hoje.
Esses dois discípulos estão se afastando de Jerusalém, carregados de pensamentos e acontecimentos acerca dos quais é difícil concluir alguma coisa. Estão verdadeiramente enfraquecidos no coração e abismados, como frequentemente acontece comquem sofre um golpe duro causado por um acontecimento maior do que as próprias forças.
Quando Jesus lhes disser: “como sois sem inteligência e lentos para crer”, certamente não será uma reprimenda vazia e ofensiva, mas está querendo lhes mostrar como se sentem. Na verdade eles são incapazes de compreender o sentido e as razões daquilo que acontece (sem inteligência) e incapazes de tomar qualquer decisão e se comprometer com qualquer causa (lentos para acreditar).
Jesus entende pelas palavras desses dois discípulos acerca de tudo o que aconteceu com Ele, desde o seu julgamento até a morte e a ressurreição e tudo aquilo que aconteceu antes, que eles não têm nada claro e a dureza do golpe de sua morte é algo que elesnão podem aguentar.
Os dois discípulos mostram toda a fragilidade dos homens que querem ser discípulos e testemunhas. Por isso se torna seu companheiro de viagem na estrada de Emaús, e Lucas nos diz que faz o mesmo conosco, que não somos nem melhores nem piores do que Cléofas e o outro discípulo.
Nos dias que antecederam à Beatificação de João Paulo II, o cineasta italiano Nanni Moretti lançou o filmeHabemus Papam, com uma finalidade específica de humanizar o processo de escolha do sumo pontífice da Igreja Católica.
Fugindo literalmente ao controle do Vaticano e do Colégio Cardinalício que o elegeu, o novo papa começa a rodar pelas ruas de Roma, à paisana, entrando em contato com as histórias e as pessoas da cidade, enquanto os cardeais permanecem fechados dentro dos muros de São Pedro. O papa caminha com o olhar perdido em busca de si mesmo e de forças para assumir o cargo.
Embora o filme seja uma comédia, não traz nenhuma blasfêmia contra a Igreja. Apenas apresenta uma história cheia de humanidade. Falta ao filme a referência às razões da fé, mas a produção tem como finalidade apenas contar a história de um homem que se acha muito pequeno diante daquilo que lhe aconteceu e que lhe não deixou possibilidade de escolhas.
Da mesma forma que aconteceu aos discípulos de Emaús, assim como aos outros discípulos e amigos de Jesus, nós não escolhemos aquilo que Jesus nos propôs. Os discípulos de Emaús não estavam definitivamente preparados para aquilo que iria acontecer com Jesus e para as consequências que isso traria para as suas vidas.
Se analisarmos bem, veremos que é o mesmo que acontece conosco. Nem sempre estamos à altura das tarefas que nos foram confiadas ou dos eventos que acontecem em nossa vida – uma morte repentina, um cargo mais alto na empresa, uma mudança repentina na vida, um novo nascimento.
Estamos sempre despreparados e até corremos o risco de ficar deprimidos e com uma vontade louca de fugir, como fizeram os discípulos que se afastavam de Jerusalém e o papa do filme de Moretti, dos muros do Vaticano.
Mas Jesus se torna companheiro de viagem, porque também ele, como homem, experimentou a dureza de uma missão muito grande para um ser humano. Jesus conhece a nossa lentidão para compreender e a nossa lentidão para acreditar do fundo do coração. Sabe do nosso desejo de fugir, mas não nos deixa sozinhos, põe-se a caminho, mesmo que estejamos longe.
Jesus, que explica aos dois discípulos pelas Escrituras tudo aquilo que estava reservado a ele, é a imagem do crente que encontra na Palavra de Deus uma palavra para si, para os seus medos e para a sua dor, e nessa Palavra encontra uma direção.
Para um cristão, a Palavra de Deus, que está concretamente verbalizada nas Escrituras, ensina que é fundamental, como foi fundamental para os discípulos de Emaús, escutar Jesus. Somente depois que o Mestre ressuscitado abriu-lhes a mente e o coração é que os discípulos reencontram o calor interior e a vontade de voltar ao campo para ganhar o jogo.
Sem a Palavra, a religião que recebemos com o rito do Batismo se torna uma série insignificante de ritos e tradições que não mudam em nada a nossa vida nem o mundo ao nosso redor.
Sem uma escuta verdadeira da Palavra, não pode nascer em nós nem mesmo o desejo de deixar que Jesus caminhe conosco, tal como aconteceu com os discípulos de Emaús, que pediram: “Fica conosco, Senhor!”.
Sem a Palavra que nos abre a mente e o coração, corremos o risco de deixar que Jesus prossiga a sua caminhada, como acontece em muitas de nossas celebrações, nas quais queremos que tudo aconteça rapidamente e sem um verdadeiro encontro capaz de mudar a nossa vida.
Fico feliz por hoje ter de novo me encontrado no caminho entre Jerusalém e Emaús. Fico feliz por ter encontrado esses dois discípulos, porque sou igualzinho a eles.
Também me vejo em Jesus, que se faz companheiro de caminhada e me convida, como cristão, a me tornar companheiro de caminhada dos meus irmãos e de todos aqueles que, na vida, estão tomados pela dor e estão tristes em seu coração.
Fonte: Qumran
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