Evangelho do dia: Jesus é sabatinado por uma comissão vinda de Jerusalém

09/02/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pró-Reitoria de Pastoral

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Nós estamos acostumados a assistir aos filmes sobre as atividades da CIA, a central de Inteligência Americana. Mas a CIA não tem a mesma fama do serviço secreto britânico – a Scotland Yard – ou israelense – o Mossad. As centrais de inteligência realizam um trabalho silencioso, mas extremamente competente. No momento em que a vítima menos espera, lá estão eles invadindo sua casa ou realizando um trabalho mais contundente, como foi a morte do líder do Hamas – partido político palestino que governa a Faixa de Gaza – em um apartamento de um hotel em Dubai, nos Emirados Árabes.

Os dirigentes religiosos de Israel também tinham seu serviço secreto. Sua ação estava ligada exclusivamente à ortodoxia – ou seja, se um profeta ou pregador como João Batista e Jesus estava agindo conforme a Lei de Israel ou não. Após a fama do investigado assumir proporções acima do esperado, logo uma comitiva era formada para sabatiná-lo. Foi isso o que aconteceu com Jesus.

No evangelho de hoje, Marcos 7,1-13 diz que Jesus recebeu uma comissão de mestres da Lei vinda de Jerusalém. Desde o momento que chegaram, seus membros foram logo olhando como agiam Jesus e seus discípulos. Ao verem que os discípulos de Jesus comiam sem terem lavado as mãos, logo um deles levantou a voz: “por que os teus discípulos não seguem o costume dos antigos e comem o pão sem lavar as mãos?”. Jesus então os chamou de hipócritas, porque honravam a Deus com os lábios, mas por dentro estavam cheios de mentiras. Segundo Jesus, eles deixavam de seguir os mandamentos de Deus para seguir a tradição dos homens. E dizia ainda que Moisés havia ordenado que as pessoas que honrassem seus pais, e, no entanto, quando se tratava de sustentá-los diziam que não podiam porque haviam consagrado ao Senhor o que era destinado aos pais. Jesus concluiu com mais uma recriminação: “Assim vós esvaziais a Palavra de Deus com a tradição que vós transmitis. E vós fazeis muitas outras coisas como estas”.

A comissão inquisidora vinda de Jerusalém não estava preocupada com a questão de higiene, como nós podemos imaginar a partir deste texto do evangelho. Estava, sim, preocupada era se Jesus era um líder zeloso e fiel às tradições de Israel. Para eles, ser fiel significava ter comportamentos exemplares, inclusive em relação à higiene. Os mestres da Lei, assim como muitos outros líderes judaicos, haviam transformado a vida social e religiosa numa espécie de ritualismo sem o qual a bênção de Deus era tirada para sempre da pessoa.

Jesus aproveita da oportunidade para chamar a atenção dos mestres da Lei para aquilo que é o essencial, ou seja, o cuidado com a coerência de vida. Ele, diferentemente dos mestres da Lei, procurava mostrar que a Palavra de Deus liberta, mas não engessa a pessoa; a Palavra de Deus é para ser seguida e não para ser interpretada de qualquer maneira, somente para satisfazer o ego deste ou daquele.

Por um lado os mestres da Lei tinham razão no tocante às normas higiênicas que os judeus deviam seguir. Elas são importantes porque ajudam no combate às doenças e à disseminação de epidemias.

Por outro lado, o problema entre Jesus e os mestres da Lei era de outra natureza. Jesus estava no centro das atenções. Os agentes secretos do Templo, que certamente haviam se infiltrado entre o povo, haviam visto nele um perigo não somente em relação às tradições de Israel, mas para as suas lideranças. A pregação de Jesus significava um desmascaramento da religião oficial e também uma proposta de guerra silenciosa contra o sistema implantado ao redor do Templo de Jerusalém.

Jesus sabia sobre que terreno estava pisando. Chamou a atenção dos mestres da Lei para o perigo de se praticar uma religião baseada no rito e não na vida e na relação com Deus. Eles não estavam sendo fieis a Deus quando impunham fardos sobre o povo.

Da mesma forma, Jesus hoje continua chamando a atenção dos dirigentes das nossas comunidades. Eles devem ter o cuidado de ser fieis ao que Deus deixou e não ao que eles pensam. Hoje, como ontem, nós corremos o risco de esvaziar o sentido da palavra e dizer que as nossas palavras são as palavras de Deus.

Talvez a comunidade cristã precise hoje de uma auditoria espiritual para ver por onde anda a nossa fidelidade à Palavra de Deus. Será que nós seríamos capazes de oferecer os dados necessários para o sucesso dessa auditoria ou será necessário que os agentes secretos entrem em cena para desmascarar as nossas infidelidades em relação à Palavra de Deus. Jesus foi coerente e não deixou de chamar a atenção dos mestres da Lei. Nós somos como Ele ou temos alguma coisa para esconder?