Semana Santa: O sofrer divino na carne humana

02/04/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pró-Reitoria de Pastoral

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O evangelho de hoje é tirado de João 18,1- 19,42. Aproximemo-nos de Jesus para venerá-lo na tarde de sexta-feira santa.

Em horário um tanto fora do comum, às quinze horas, hoje nós nos reuniremos em nossas igrejas para participar da função de comemoração da crucifixão de Jesus. Nós celebraremos e tornaremos atual o percurso que Jesus foi obrigado a percorrer até o Calvário, antes açoitado, espancado, insultado e vilipendiado, depois obrigado a carregar o madeiro transversal (não a cruz inteira) até o lugar da condenação. Nesse caminho, ele caiu por três vezes sob o peso do tronco. No Calvário foi colocado por outros homens sobre esse instrumento de suplício para que seus pulsos e tornozelos pudessem ser transpassados por pregos poderosos que o fizeram sentir o extremo da dor. Não obstante as forças lhe viessem a faltar, Jesus ainda teve forças para pedir perdão ao Pai para os seus agressores que “não sabiam o que estavam fazendo” e para gritar em alta voz que confiava Maria ao discípulo que amava e este a Maria.

Jesus expira sobre a cruz pelas três horas da tarde. Na cruz Ele deu um grito: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46).

Sobre todos esses episódios foram feitos filmes e existem numerosíssimos relatos e muitíssimos comentários dos mais variados gêneros. Há também quem se dedique sobre os particulares crus e inauditos dos flagelos que rasgam as carnes do Senhor e sobre o sangue que brota sujando o pátio, dando a idéia do matadouro, mas aquilo que mormente deve ser levado em consideração é que nos membros de Cristo é o próprio Deus que se entrega à humanidade bárbara e assassina deixando-se matar de uma morte cruel e sem piedade e provando a dor e o abandono. Kitamore insiste sobre a cruz para ver o nascimento da teologia da dor de Deus, sendo essa o lugar inelutável do sofrimento e do padecimento, para o qual desboca a capacidade de sofrimento de um Deus que se dá a si mesmo aos sofrimentos e aos sacrifícios: “a dor de Deus é o amor de Deus fundado na dor”; Karl Rahner observa no patíbulo de Cristo o lugar da “morte de Deus”, porque no Filho é o Pai que morre abandonando a si mesmo. A Sexta-Feira Santa em todos os casos é o conceder-se de Deus às prerrogativas que homem por si só deixa de assumir conscientemente por uma finalidade que nada mais é do que a recuperação da própria humanidade. Na cruz, Deus escolhe o inimaginável, o absurdo e o inconcebível também de se unir à precariedade do ser humano, comparando-se ao cordeiro imolado e desfigurado no aspecto e massacrado que se torna o Servo Sofredor (Isaias 52-53).

Existe um sentido para o mistério da dor e da morte que atormentam o ser humano diante de muitas experiências de sofrimento e de luto? Há algum fundamento ou um valor para o padecimento e a morte a que são obrigados muito frequentemente sobretudo os justos, os piedosos e as pessoas fieis? Existe alguma explicação neste mundo para as lágrimas, os prantos desesperados e os gritos de tantos que perecem sob as bombas ou alvejados pelos disparos e rajadas de balas? Se tudo isso ainda hoje ainda acontece quer dizer que somos chamados todos e cada um à razão e ao bom senso para pôr fim à violência e procurar juntos soluções para os problemas que geram ódios e mortes, uma vez que tudo depende no fundo da capacidade humana de sobreviver e de interagir de maneira recíproca e adequada; mas somente a dor e a morte de Deus crucificado podem nos revelar o significado da persistência de acontecimentos sanguinários, porque elas deságuam sobre um Deus que continua a sofrer nos membros do ser humano para conseguir para o ser humano a salvação. Deus sofredor da dor humana lancinante e nos estertores da morte por uma condenação atrocíssima dá um valor e um sentido ao sofrimento humano continuando a sofrer na dor de quem está doente e oprimido e nós compartilhamos da cruz de Cristo na nossa carne sofredora segundo a pedagogia de Paulo: “na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo em favor do seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24). E o sofrimento deságua sempre na ressurreição, no prêmio final consequente de cada luta. Por essa razão, a cruz é também o lugar da esperança e da abertura de nossas portas à perspectiva futura.

Sofrer com o ser humano através do homem é a marca de um Deus capaz de humanidade absurda, visto que em tudo isso Ele escolheu aquilo que de nossa parte tende a frustrar e a buscar subterfúgios e assumiu na carne a desonra e a desfeita que ninguém no mundo desejaria, mas é um absurdo que funda a grandeza de Deus e revela sua infinita onipotência de amor: um Deus que padece e morre não desdenhando sequer do sepulcro depois de ter abandonado a si mesmo, porque a cruz é também o lugar onde Deus abandona Deus.

Não podemos certamente considerar a morte como palavra definitiva, mas colocá-la como uma etapa necessária e irrenunciável para a glória plena da vida na Ressurreição, já que Cristo morre não uma vez por todas, mas para sair vitorioso dos meandros obscuros do sepulcro, e, todavia, agora não podemos considerar o instrumento lenhoso (a Cruz) como única dimensão do sofrimento divino na carne humana, mas como fruto de uma só e única prerrogativa que traz sempre consigo algo de divino: o amor!

Fonte: Qumran2.net

 

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